TILLICH, Paul. Dinâmica da Fé. Tradução de Walter O.
Schlupp. São Leopoldo – RJ. Sinodal, 7ª. Edição, 2002, 87 p.
DINÂMICA
DA FÉ
Observações Introdutórias: Palavra fé é incompreendida, distorcida
e mal definida. É termo que precisa ser curado antes de curar. Causa desorientação,
confunde, leva a extremos, como o ceticismo, ao fanatismo, a resistência pela
razão, a sujeição emocional, rejeição de religião genuína. Até mesmo ao
abandono dela mesmo, se bem que isso dificilmente é possível, por mais
desejável que seja. Não há outro termo que faça jus à realidade expressa por
fé. Reinterpretar a palavra fé é o objetivo do autor do livro, em seis pontos:
1) O que é Fé, 2) O que não é Fé, 3) Os símbolos da Fé, 4) Tipos de Fé, 5) a
Verdade da Fé e 6) A Vida da Fé.
I
- O QUE É FÉ?
1.
Fé
é como estar possuído por aquilo que nos toca incondicionalmente:
Incondicionalmente não admite ou não supõe qualquer condição. O ser humano
difere de outros seres vivos por causa das PREOCUPAÇÕES ESPIRITUAIS (estéticas,
sociais, políticas e cognitivas – que é o ato de conhecer, conhecimento). As
outras preocupações (alimento moradia) são inerentes a todos seres vivos, inclusive
o Ser Humano (SH).
As
PREOCUPAÇÕES podem ser urgentes ou mais urgentes. As mais urgentes são O FOCO
QUE EXIGEM DEDICAÇÃO TOTAL DAQUELE QUE ACEITA ESSA EXIGÊNCIA – p. ex: o
sustento de um individuo é para todo individuo como para toda comunidade,
aquele que aceita essa exigência dedica-se totalmente a essa preocupação, o
sustento.
A exigência
(preocupação suprema) exige sacrifício de todas as outras coisas
(preocupações): bem-estar, saúde, família, valores cognitivos, estéticos. Isso
torna a preocupação suprema um deus. O problema é quando esse deus se evidencia
um demônio, porque não se esgota na sujeição incondicional. Apesar de conter uma
promessa de realização, esperada num ato de fé. Essa esperança (promessa de
realização pela fé) por vir à tona em símbolos indefinidos ou concretos, que
não se compreende ao pé da letra, mas promete uma REALIZAÇÃO ÚLTIMA, que se
torna uma preocupação incondicional
na medida em que essa realização última seja uma ameaça de exclusão daquele que
foge à exigência incondicional. Essa PREOCUPAÇÃO INCONDICIONAL é a natureza da
fé genuína e exigência de DEDICAÇÃO TOTAL que perfaz PREOCUPAÇÃO ÚLTIMA. Assim,
para o homem do AT a fé é o estar possuído última e incondicionalmente por Javé
e por todo aquele que ele representa através de seus mandamentos, ameaças e
promessas. P.ex: Sucesso na vida,
status social, ascensão econômica, quando se torna uma preocupação
incondicional é um deus (neste caso espírito de concorrência). Contendo uma
OBEDIÊNCIA INCONDICIONAL ÀS SUAS LEIS. Sacrifica as RELAÇÕES HUMANAS GENUÍNAS,
CONVICÇÕES PRÓPRIAS, PORQUE AMEAÇA A decadência social; e econômica, neste
exemplo não existe promessas de vaga.
2.
Fé
como ato da pessoa inteira - Fé é estar
possuído por algo que nos toca incondicionalmente.
Fé é um ato da
pessoa inteira. Realiza-se no centro da vida pessoal. É intimidade global do
espírito humano. Não é soma das funções individuais, ultrapassa-a e se faz
sentir em cada uma das áreas da vida humana e ao mesmo tempo. É DINÂMICA da
vida pessoal, que é a DINÂMICA DA FÉ.
Dinâmica da Fé tem sua raiz no centro
da pessoa: no inconsciente e consciente. No inconsciente dá o
conteúdo da fé. No consciente se dá
quando o inconsciente atinge o centro da pessoa e por ele são impregnados. Estando
só no inconsciente não é fé. Fé é liberdade, porque é ação. Fé = liberdade. Freud compreende a Fé no conceito do ego e superego.
Conceito de superego é ambíguo. A vida cultural não se deve dar rédeas à libido
(energia sexual) sempre insistente, porque castra a vitalidade da pessoa - “mal
estar da cultura”, pode levar a neuras.
Assim, os
símbolos da fé aparecem no superego concretamente como a “imagem do pai”, rejeitado
por Freud, pois o superego não se justifica por normas objetivas, que transforma
o SR em tirano. Mas a fé paterna transforma-a em princípio de verdade, caso em
que Fé e cultura se mantém porque o superego
encarna normas e princípios objetivos do ser.
Essa relação é um ato central pessoa e sua
estrutura racional manifestada em sua linguagem, capacidade de distinguir entre
fazer o bem, senso estético e de justiça. Supera a RAZÃO do SH em
criatividade e em destruição. Essa é uma capacidade do seu “eu”. Aqui a fé não
é irracional, é ato que transcendem os elementos racionais da vivência humana.
É extática / êxtase, é global e mais íntimo da pessoa. É mais que impulso
irracional do subconsciente. O êxtase não exclui a razão, mas não é idêntica a
ela. Engloba elementos não racionais. Estar em êxtase na fé há consciência da
verdade e de valores éticos. Êxtase é estar fora de si, sem deixar de ser
gente.
Compreender a fé também é saber entre função
cognitiva e sentimento e vontade. Todo ato de fé é elemento cognitivo
(conhecimento), não como processo independente do pensamento, mas como elemento
indispensável de um Ato global de receber e dedicar. Conhecimento é um elemento
da própria fé, que é uma decisão da vontade, do “eu” centrado, não brota dos
sentimento. Sentimento não produz fé. Não excluí a possibilidade de outros
elementos que determina o caráter da fé (sentimento e vontade), mas não a
produz.
Assim, é possível uma psicologia da fé. Porque
tudo o que acontece na personalidade do homem pode ser objeto da psicologia. Então
o Ato de fé está inserido na totalidade dos processos psicológicos. A
psicologia do medo nada tem a ver com a fé. A relação total da pessoa é ato integral procedente do centro do “eu”
pessoal, percebido o incondicional e por ele somos possuídos.
3.
A
fonte da Fé: Da
PREOCUPAÇÃO INCONDICIONADA nasce a Fonte da Fé, em dois lados: 1) aquele
que por ele é possuído (homem conscientizado) e 2) aquilo que o possui (homem
em relação com o seu mundo por outro).
O homem por ter uma preocupação última é
natural tem capacidade de transcender as suas experiências finitas e
passageiras, condicionadas, que surgem e desaparecem. Nessa capacidade de
captar o sentido do que é último, incondicional, infinito, faz da Fé uma
possibilidade do homem. Essa possibilidade humana exige a sua realização, o
homem é impelido para a Fé ao se conscientizar do que é último, incondicional,
infinito que faz parte, mas não pode tomar posse como uma propriedade, por
causa da inquietude do coração. Estar
possuído incondicionalmente é Fé, é estar tomado pelo incondicional, é
paixão infinita. É Fé paixão pelo infinito. É preocupação incondicional. É
validade última. É um ato experimentado subjetivo central da pessoa.
A questão não é o ato de fé experimentado de Deus ou
deus, mas qual o fundamento da divindade na ideia da Deus? Resposta: É o
elemento do INCONDICIONAL, validade última é o que determina o caráter do
divino. É entender que tudo o “céu e na terra” já alcançou o INCONDICIONAL na
história da religião, na CONSCIÊNCIA religiosa do homem, que sempre age criticamente
separando o INCONDICIONAL do CARÁTER INCONDICIONAL, que é provisório,
passageiro, finito.
Essa
PREOCUPAÇÃO INCONDICIONAL engloba aspectos subjetivos e objetivos, do ato de
crer. O ato SUBJETIVO é a fé pela qual se crê, provém do íntimo da pessoa. O
ato OBJETIVO é a fé que é crida, são os símbolos do divino. Diferenciar é importante,
mas não absoluta uma vez que o ato de crer se assimila ao conteúdo da fé. Assim,
a PREOCUPAÇÃO INCONDICIONAL é estar tomado pelo que é Verdadeiro /
Incondicional, essa é a Fé Verdadeira. A Fé Falsa / Idólatra é aquela que não
supera a separação do sujeito e objeto: Deus nunca pode ser objeto sem ser
sujeito (ser símbolo sem ser no íntimo das pessoas), nem mesmo na oração
(símbolo). Essa é a diferença entre fé verdadeira e a falsa. Fé falsa é
dialética em si mesma como ato central.
4.
A
Fé e a Dinâmica do Sagrado: Há fé há conhecimento do sagrado. O
que nos toca incondicionalmente se torna sagrado. A experiência do sagrado =
experiência do divino. Sagrado é mistério revelado. Quem se depara com o
sagrado é por ele atraído e estremece. Desse duplo efeito deixa claro a relação
entre a experiência do sagrado e a experiência do infinito. O coração humano
procura o infinito porque vê sua própria realização, que é à base da atração
extática = êxtase. Dessa relação do infinito pode ocorrer experiências
negativas, que anulam o divino e afeta na relação com o sagrado afetando o ato
de fé.
O significado
do sagrado de PERFEIÇÃO MORAL precisa ser corrigido. Historicamente a natureza
do santo era compreendida como separado do mundo e das experiências comuns das
pessoas, separado do âmbito finito, entrar no Santíssimo significava entre no
sagrado. Sagrado é diferente, ultrapassa o condicional, é de caráter
inacessível, é mistério. Por isso ele se encontra no homem de duas maneiras: 1)
Como força criadora sobre a destruidora e 2) como força destruidora sobre a
criadora. Essa ambiguidade divino demoníaca se manifesta como divina –
criadora, sobre as destruidoras e vive-versa sobre a criadora. Santo e sagrado
nada têm haver com bom e mau. Tanto é divino como é demoníaco.
Assim, na
Dinâmica da Fé é dito na Dinâmica do Sagrado. A diferença entre Fé Verdadeira e
Fé Idólatra, entre sagrado em atuação demoníaca destrutiva e a criação, é
idêntico para com objeto Fé idólatra, destrutiva a Fé Verdadeira. Perigo da Fé
é a idolatria. Perigo do sagrado é a sua possibilidade demoníaca. PREOCUPAÇÃO
ÚLTIMA a que nos toca incondicionalmente pode nos destruir como também pode nos
curar.
5.
Fé
e Dúvida: Ato de Fé é realizado pelo ser humano finito,
limitado, mas é um ato transcendente dos limites do finito, ele ultrapassa a
finitude humana. Fé é a certeza na medida que se baseia na experiência do
sagrado. Fé é incerteza porque o infinito é experiência por um ser finito. Não
há como anular essas incertezas, inseguranças aceitá-las é ato de coragem.
Coragem é arriscar a afirmar-se a si mesmo diante dos poderes de não ser, no
qual o finito é ameaçado. Isto está no “eu”. Assim, A aceitação de uma
PREOCUPAÇÃO ÚLTIMA em seu conteúdo não produz uma certeza imediata, é um risco,
um ato de coragem, porque pode evidenciar que a preocupação seja provisória /
passageira, o que leva a decepção. Esse risco do ato de crer é a relação entre
fé e dúvida. Fé é aquilo que nos toca incondicionalmente.
Fé e dúvida
são irreconciliáveis. Porém a dúvida pode se tornar elemento necessário da fé,
porque se encontra encerrada no risco da fé, pois é ela que impulsiona a
pesquisa científica. Não a dúvida metódica ou cética nega a certeza, leva ao
desespero ou ao cinismo. É impossibilidade da verdade. A dúvida presente no ato
de fé não é a dúvida científica marcada pelo risco, mas é a dúvida da pessoa possuída por
algo concreto. É desta forma que a relação Fé e Dúvida é importante na
prática, onde os cristãos ficam perplexos com a “perda da fé”, o que na verdade
é uma confirmação de Fé, pois leva a discussão do problema de Fé.
6.
Fé
e Comunhão: Assim, Fé e Comunhão são a Dinâmica da Fé, diz
respeito ao individuo, é colocada em relação à vida de toda uma comunhão de fé
é um risco constante se a própria fé é compreendida como risco. Essa é a
natureza de uma Fé viva e a conseqüência do princípio protestante.
II
- O QUE A FÉ NÃO É
1. A distorção da Fé como Ato do Conhecimento: A
própria descrição positiva da Fé contém uma rejeição que distorcem o sentido da
Fé, que influencia o pensamento popular e afasta as pessoas da religião. A
responsabilidade por esta deturpação não é só do pensamento popular, uma
análise última, mas é das concepções filosóficas e teológicas que mal
entenderam a natureza da fé. Uma só é a raiz do erro interpretativo da fé: a
desfiguração do sentido da fé que acontece quando apenas uma das funções que
constituem a pessoa é identificada como a fé.
A distorção
mais freqüente da Fé é considerá-la um conhecimento que apresenta menor grau de
certeza do que o conhecimento científico. Essa suposição de probabilidade maior
ou menor que não pode ser demonstrada é presente no ato de fé. Assim, a Fé é
dar crédito, é “crer” nas informações com se fossem exatas, nas utilidades dos
documentos históricos, num determinado comportamento de uma pessoa. “Crer” é
ter a suposição como base de uma probabilidade suficiente.
Às vezes o
“crer” é o provável ou até o improvável, mas não o impossível. Há “crer” por
bons motivos, por as pessoas serem dignas de confiança (aqui entre a informação
do passado). Ter confiança numa autoridade que diz alguma coisa é sensato,
desde que não nos deixarmos tomar a liberdade do próprio pensamento.
Fé é =
confiança, conseqüentemente pode-se dizer com razão que quase todo o nosso
conhecimento se baseia em “Fé”. Fé é mais que confiança em autoridade
religiosa. Fé é participação no
que toca incondicionalmente. Então Fé não é um conhecimento pré-científico
ou científico, nem confiança em autoridades.
TEMA: Fé
não confirma nem nega nada que faça parte do conhecimento pré-científico ou
científico do nosso mundo, seja e; e baseado em experiências próprias ou de
outros. Por que? Porque o conhecimento do mundo (inclusive o de nós
mesmos) é esforço nosso, a investigação é do ser humano, portanto não é questão
de Fé.
A diferença
entre Fé e Conhecimento se mostra no tipo de certeza que delas advém.
Do Conhecimento (dois tipos): 1) Certeza Imediata – dada pela percepção dos
sentidos (perceber a cor verde é porque viu o verde), pode até haver engano,
mas a pessoa não dúvida que viu algo verde; e, 2) Certeza Suprema – são
pressupostos irrefutáveis. É lógica, pois existem estruturas que dizem isso.
A Certeza
Suprema / Absoluta nem sempre são fundamentais para o nosso conhecimento,
porque nenhuma verdade é possível sem o material que nos é fornecido pelos
sentidos. Sem a forma desse material as leis lógicas não são tão lógicas. Portanto,
o pior erro da Teologia é externar idéias que contradizem a própria estrutura
do pensamento. Isso não é Fé. O fato de conhecer uma realidade não tem o
caráter de certeza absoluta, mas sim de maior ou menor probabilidade.
A certeza
do conhecimento de uma lei física, um fato histórico ou uma
constituição psicológica, na prática nunca é plenamente suficiente, pois pode
ser questionada por novos conhecimentos, enquanto que a certeza da Fé, que não se
baseia em formas de intuição e pensamento, é existencial, porque o homem
participa de toda ela. A Certeza da Fé têm dois componentes: 1) A certeza
Absoluta, é a fé sem risco – a que se dirige a algo de validade última e é
incondicional; e, 2) a que encerra um risco e engloba dúvida e coragem, porque
aqui se trata da afirmação de algo não-último, de algo que se torna destrutivo
se for tomado incondicionalmente.
Portanto a
Certeza da Fé não é a certeza condicionada de um juízo teórico.
2.
A distorção da Fé como da Vontade: Existem o tipo Católico e o
Evangélico de distorção da Fé. O Católico: Tomás de Aquino afirmava
que a impossibilidade de demonstração inerente à Fé precisa ser compensada por
um ato de vontade. Aqui o pressuposto da fé é um ato de conhecimento de baixo
grau de certeza, contrapesada por um ato de vontade. Isso contradiz o caráter
existencial da Fé. Sem conteúdo teórico fixado da fé a vontade para crer não
faz sentido. Conteúdo é dado da razão à vontade. Aqui as pessoas decidem pela
fé na vontade demonstrada. É a vontade que leva a Deus, não o intelecto que é
levado por Deus.
O Protestante:
a Vontade de crer é obediência de fé, que pode significar duas coisas: 1)
entregar-se para ser possuído incondicionalmente, aqui coloca-se todas as
funções do espírito humano; e, 2) sujeitar-se à ordem de crer, como ela é
pregada pelos profetas e apóstolos.
A palavra
profética reconhecida como tal, leva a obediência da fé e reconhece uma
mensagem como proveniente de Deus. No caso de dúvida, a palavra profética ou
não, a obediência da fé, perde seu sentido e se transforma numa arbitrária
disposição (vontade) para crer.
O Ato da Vontade de fazer não produz fé,
pois fé, como preocupação incondicional, já estava presente antes do Ato de
Vontade. Fé não é exigência, cuja rejeição revela má vontade. Homem finito
não pode criar voluntariamente o estar possuído pelo infinito. Nem a razão, nem
à vontade, nem a autoridade, conseguem criar a fé.
Fé não é só
emoção, sem uma relação com algum conteúdo. Religião é assunto particular do
individuo e nada mais é do que um reflexo de sua vida emocional. Portanto, não
representa perigo à cultura do homem.
Nem a cultura,
nem a religião consegue separar a Fé, que é como estar possuído por aquilo que
toca incondicionalmente reclama a pessoa inteira e não se restringe à
subjetividade do sentimento, mas reivindica a verdade, exige a entrega daquilo
que toca incondicionalmente, não é isolada, sem compromisso. Negar essa
reivindicação da religião é negar a própria religião.
A Fé sendo ato
da pessoa inteira, o sentimento está presente, vivo, pois é o que representa a
participação da pessoa inteira na experiência espiritual. Sentimento não é
fonte de Fé. Fé tem um conteúdo concreto. Fé tem orientação para o
incondicional, que surge numa situação concreta que exige e justifica essa
entrega.
III
– SÍMBOLOS DA FÉ
1.
O
conceito de símbolo: Aquilo que toca o homem incondicionalmente
precisa ser expresso por meio de símbolos, Os símbolos são genuínos e existem
nas diversas áreas da vida cultural. p.ex: melodias, ritmos, bandeira de uma
nação, semáforo, uma cora (rei) e outros. Existem símbolos de estudo, de
família, de casa, de construção, de amor e dentre outros também os que
simbolizam a fé. Deus é o símbolo fundamental da Fé, mas não é o único. Todas
as qualidades que lhe atribuímos como poder, amor, justiça provêm de nossas
experiências finitas no cotidiano.
2.
O
símbolos religiosos: Os símbolos da Fé estão associados à
história de deuses, são símbolos da Fé associados a lendas, são os símbolos que
representam personagens divinos e os seus atos, também, chamados de mitos. São
símbolos da Fé que falam do encontro dos deuses entre si e dos deuses com os
homens; os símbolos também são linguagem de Fé e são transcendentes.
3.
Símbolos
e mito: Símbolos
e mitos revelam formas de pensamento e de intuição que estão inseparavelmente
ligados à estrutura da consciência humana. Um mito pode separar-se de outro ou
ser substituído, mas não se pode desligar o pensamento mítico da vida humana,
porque isto toca-lhe incondicionalmente.
IV
– TIPOS DE FÉ
1. Os elementos da fé e sua dinâmica: 2.
Os tipos ontológicos de Fé: 3. Os
tipos morais de Fé: e, 4. A unidade dos tipos de Fé:
·
Em toda a religião a Dinâmica da Fé está
definida por dois tipos de elementos na experiência do sagrado: santidade do
ser e santidade do dever. Um elemento é do tipo ontológico ou do ser, vê o
infinito no finito, vê Deus no homem, na flor, no animal, na natureza, a
experiência do infinito no finito.
·
Todo grupo religioso e cultural, individual, tem
uma experiência de Fé especial com conteúdo de Fé própria. O tipo ético ou
moral é a idéia da lei. Deus é, sobretudo aquele que deu a lei. Somente aquele
que segue a lei pode chegar a Deus, i. é, uma Fé legalista. A revelação trazida
por Maomé consiste principalmente de leis rituais e sociais. As leis rituais
lembram a fase sacramental, da qual provém todas as religiões e culturas. As
leis sociais vão mais longe do que o elemento ritual e santificam “o que
deveria ser”, leis desse tipo permeiam a vida inteira, p. ex: no judaísmo
ortodoxo. A lei sempre se apresenta como dádiva e exigência, sob proteção da
lei é que a vida é possível e digna de se viver. Este pensamento foi influência
da Grécia Antiga. A Fé mística e sacramental conhece leis, aqui ninguém
consegue alcanças o último e incondicional sem cumprir as leis. No tipo
ontológico a lei impõe a sujeição a ordens rituais ou a exercícios
ascéticos. No caso do tipo moral, uma lei moral, demanda
obediência moral.
·
A Fé das precursoras do Iluminismo desde o
século XVIII é o tipo moral da Fé humanística, eles lutaram pela libertação da
servidão feudal consagrada pela religião e pela justiça para todo ser humano
individual.
·
O catolicismo caracterizou a si mesmo, com
razão, como um sistema que engloba elementos culturais e religiosos divergentes
entre si, suas fontes são o Antigo Testamento que reúne o tipo sacramental e
moral, as religiões helênicas de mistérios, a mística, o humanismo clássico
grego e o modo de pensar científico da Antiguidade tardia. Além de tudo o
catolicismo baseia-se no Nov Testamento considerando mais significativo à
doutrina de Paulo acerca de Espírito Santo. A presença do Espírito Santo divino
no espírito humano e o Espírito de Cristo é amor, justiça e verdade.
·
A crítica básica de todos os grupos protestantes
ao catolicismo se volta contra o fato de que o sistema autoritário excluiu a
autocrítica da Igreja e que os elementos sacramentais da Fé e sufocaram os
elementos proféticos. O sistema autoritário tornou impossível uma reforma de
base, restando apenas a cisão total. Com essa cisão o protestantismo se tornou
cada vez mais representante unilateral do tipo moral da Fé, se perdendo a
riqueza dos ritos tradicionais, a compreensão de que o sagrado está presente em
experiências sacramentais e místicas. A importância do conceito Paulino de
espírito, em que estão reunidos os tipos sacramental e o ético não foi
reconhecido nem pelo catolicismo nem pelo protestantismo. A realidade que Paulo
designou com a palavra “espírito” como sendo a unidade do extático com o personal,
do sacramental com o moral, do místico com o racional, só depois do
cristianismo reconquistar a unidade dos diferentes tipos de Fé como experiência
vivida, poderá reivindicar questões resultantes da Dinâmica da Fé.
V
– A VERDADE DA FÉ.
1.
Fé e razão; 2. A verdade da Fé e a verdade científica; 3. A verdade da Fé e a
verdade histórica; 4. A verdade da Fé e a verdade filosófica; e 5. A verdade da
fé e seus critérios.
·
Fé
e razão. Será que poderiam andar uma ao lado da outra, ou elas
se excluem mutuamente? É possível uma Fé racional? O primeiro tipo de razão
poderia ser chamado de razão técnica, que se ocupa com os meios e não com o
fim. Nesse sentido abarca a vida diária de cada um e domina a civilização
técnica do nosso tempo. O segundo tipo de razão esta relacionado com aquilo que
faz do homem um homem e o diferencia de todo outro ser. É à base de sua língua,
sua liberdade e sua capacidade criadora, procura pela verdade e realização da
lei de conduta. Dotado de razão, pode ser possuído por algo incondicional e
assimilar a exigência da lei de conduta e perceber a presença do sagrado. Razão
é uma condição necessária para a Fé e Fé é o ato em que a razão irrompe
extaticamente para além de si. A razão humana é finita, mais é elevada acima de
si mesma quando é possuída pelo incondicional. Então fé e razão não são
necessariamente opostas.
·
Uma Fé que se encontra em contraposição à razão,
não destrói apenas a si mesma, mas também aquilo que é propriamente humano no
homem. Êxtase é a razão realizada e não razão quebrada, razão só chega a ser
realizada quando é levada para além dos limites de sua finitude e experimenta a
presença do sagrado. Ela é, finalmente preenchida de conteúdos irracionais.
Razão é a pressuposição da fé e Fé preenche a razão. Entre a natureza verdadeira
da fé e a natureza verdadeira da razão não há contradição, mas a alienação do
homem que acontece com experiências da sua finitude, com o infinito
transformando toda a sua estrutura de ser racional pela revelação daquilo que o
toca incondicionalmente, faz da Fé uma idolatria e confunde os portadores do
incondicional com o próprio incondicional.
·
Daí surgem novos conflitos entre fé e razão, os
quais exigem uma revelação nova e superior. Aquilo que a Fé denomina de verdade
é diferente daquilo que é visto como verdade pelas citadas formas da razão. Que
significa verdade em relação à fé? E que relação existe entre a verdade da Fé e
as outras formas de verdade com seus critérios tão diferentes?
·
A verdade científica depende de quão
adequadamente as leis estruturais são descritas e confirmadas através de
repetidas experiências, é provisória e sujeita a constante verificação. A
verdade da fé e a verdade científica fazem parte de dimensões diferentes, não
quer dizer que se trate de um conflito entre fé e ciência. A ciência só pode
entrar em conflito com a ciência e a fé apenas com a fé. A verdade da fé não
pode ser nem confirmada nem negada pelas mais recentes descobertas no campo da
física, biologia ou psicologia. A verdade histórica é baseada em fatos e a verdade
de fé pode analisá-las e interpretá-las à luz de sua própria experiência. Com
isso ela traz o aspecto histórico para dentro da dimensão da fé. A verdade da
Fé não pode afirmar ou negar a verdade científica ou a histórica. Levante-se
agora também a verdade filosófica que é a tentativa de responder às perguntas
mais gerais acerca da natureza das coisas e sobre a existência humana usando
conceitos.
·
A visão filosófica da natureza e da situação humana
é a jun cão da fé e do pensamento, é o colo materno de onde partiram as
ciências naturais e a pesquisa histórica e permanece ligada com toda ciência
até o dia de hoje.
VI
– A VIDA DA FÉ.
1.
Fé e coragem; 2. A Fé e a integração da pessoa; 3. Fé, amor e ação; 4. A
comunhão de fé e suas formas de expressão; e 5. O encontro entre comunhão de Fé.
·
Fé e dúvida tem sido colocadas como opostas,
exaltando-se a certeza da Fé como o fim de toda dúvida, mas a dúvida é superada
pela coragem. A coragem não nega a dúvida, mais aceita a dúvida como finitude
humana e se confessa, apesar da dúvida, aquilo que toca incondicionalmente, ela
engloba o risco, partindo para a possibilidade de uma vida criativa, não é uma
Fé isenta de dúvida, mais sim de coragem que se arrisca, que encerra o perigo
do fracasso mesmo na confissão. Jesus é o Cristo, é exprimida com a convicção
mais profunda, contém risco e coragem. Não se pode substituir a fé pela
coragem, mas também não se pode separar a Fé da coragem. A união perfeita com a
base divina do ser é anula a separação e com essa se elimina a incerteza,
dúvida, coragem e risco. O finito é englobado no infinito, mesmo na Fé
fracassada.
CONCLUSÃO
Fé é uma
realidade em cada período da história da humanidade. Fé pode ser supersticiosa,
pode ser rejeitada, proveniente de um desconhecimento da natureza da fé. Fé é
difícil de se definir. Normalmente a tentativa encerra possibilidades de novos
mal-entendimentos. Fé é a mais íntima preocupação na vida do homem como pessoa,
manifesta ou oculta. Fé é religião e simultaneamente mais do que religião. Fé
presente e concreta, mutável e sempre a mesma. Fé está inseparavelmente ligada à
natureza do homem, sendo por isso necessária e universal. Fé é estar possuído
incondicionalmente e por isso não pode ser refutada nem pela ciência nem pela
filosofia. F’é possível. Fé não pode ser desvalorizada, dentro ou fora das
Igrejas, seitas ou movimentos ideológicos. Fé se justifica a si mesma e defende
seu direito contra todos que a atacarem, porque só ela pode ser atacada em nome
de uma outra Fé. Este é o triunfo da Dinâmica da Fé – QUE TODA NEGAÇÃO DA FÉ JÁ
É EXPRESSÃO DE FÉ.
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