sexta-feira, 25 de março de 2022

Nesta semana tive que apresentar um seminário em uma disciplina do curso de Pós-Graduação visando o doutorado em História. O texto do alemão Gumbrecht falava em dado momento da “cultura do sentido” e da “cultura do presente”, em suma o autor define o “presente” como o mundo das coisas (aquilo que envolve a história) e que estas não estão no passado, mas fazem parte do presente. Após a apresentação, fiquei a refletir, a tempos não o fazia por ter estado um tanto afastado das humanidades sobre a esta “cultura do presente” e qual possível aplicação prática. O cristianismo traz em si um passado de feitos. Olhamos o Antigo Testamento - AT (tenho pavor quando o chamam de Velho) e encontramos diversas narrativas: parte da criação do Universo, de nosso mundo chamado Terra (já pensou quem deu o nome de Terra ao nosso planeta?) Gn. 1.10, a criação do ADAM homem/humanidade, sua desobediência, sua descendência, o dilúvio, descendência de Noé, a vinda de terá de Ur para Harã e daí o chamamento do Eterno. Nascimento de Ismael e dos patriarcas, escravidão no Egito, libertação, o êxodo, a viagem de 40 anos onde todos os adultos acima de 20 anos morreram durante o caminho, sim nem todos chegam até o fim. A chegada a Canaã, a desobediência (de novo em expulsar todas as demais tribos), a mistura e adoração aos deuses falsos, o paganismo, o castigo, os juízes, os reis maus e alguns bons (aos olhos de Deus), aprofundamento da idolatria, a desobediência (que sempre cobra seu preço, segundo as Escrituras) a destruição das 12 tribos, o cativeiro, domínio de estrangeiros em toda a terra de Canaã e assim prossegue os relatos do AT. No Novo Testamento – NT também encontramos diversas narrativas do nascimento de Jesus, da transformação para o Cristo, de seu ministério, sua prisão, morte, ressurreição. Do treinamento dos apóstolos e discípulos, a descida do Espírito Santo e o início da igreja que em seu começo rejeitava a salvação de um gentio. Em poucas palavras (acho eu) falamos em diversos momentos históricos, cheios de significados, mensagens, ensinos e advertências. Ao resgatar o termo acima da “cultura do presente” e o confrontar com a expressão Sitz im Lebem de Gunkel utilizada na exegese e agora aplicada a nossa realidade de Ser-no-mundo expressão de Heidegger torna-se clara que a “nossa” história, preservada e registrada nos 66 livros de nossa Bíblia, parece ter ficado no passado e está desassociada ao nosso presente. O cristão parece (seria presunçoso de minha parte afirmar) conhecer (?) sua história, mas não vive-la em seu presente. O passado então não é passado, ele é presente quando o trago em mim, diariamente, na constituição do meu ser humano e principalmente cristão, crente, filho de Deus todos movimentos do Senhor Deus em minha vida e no meu cotidiano. Talvez seja o motivo de parte do cristianismo viver tão desassociado dos ensinamentos bíblicos e assim fazer que menos deveríamos: desobedecer, já que devíamos ter aprendido com o erro do outro e a Bíblia não o poupa, o escancara e nos desafia a viver o Logos.