Capítulo III - contribuições para a resolução de
tensões e conflitos
“com o passar do tempo por diversos fatores, muitos (as)
pastores (as) se sentem desapontados, desanimados, desmotivados...” [57]
1. Contribuições
Nota-se a partir da pesquisa realizada diante dos poucos
documentos disponíveis da denominação Batista, a total ausência de assuntos que
abordem os conflitos e as tensões da família pastoral. Isto não acontece apenas
nas comunidades batistas, mas em outras tradições religiosas o fenômeno se
repete.
No capítulo anterior foram expostas práticas e ações
geradoras de tensões e conflitos no interior da família pastoral, de um esposo
ou pai atuante diante de uma comunidade batista. As práticas geradoras de
tensões, porém, podem ser encontradas em partes ou no todo em qualquer outra
comunidade religiosa protestante de perfil histórica. O fenômeno surge nos
conflitos entre as micros-sociedades: Família e Igreja, em suas inteirações e
na dificuldade em elaborar um relacionamento capaz de harmonizar os interesses.
Diante deste quadro surge a questão: quais contribuições
poderiam ser dadas diante de um quadro de tensões e conflitos justamente na
casa daquele que é anunciador de esperança, de vida, de fé, perdão, paz, justiça,
salvação e transformação. Naquele homem que para muitos pode muito contribuir
com a resolução de seus próprios conflitos familiares?
A dificuldade é que as tensões e conflitos apresentados no
capítulo anterior estiveram sempre presentes, de diferentes maneiras e
intensidades, na vida de famílias tidas como exemplares para muitos membros da
comunidade, que procuram nela modelos, se bem que nem sempre são seguidos.
Assim neste capítulo se apontam contribuições que possam
auxiliar em prever, perceber, rever as ações individuais ou coletivas que
determinam práticas causadoras de conflitos entre as micro-sociedades:
1.1
A Igreja Batista
É inegável que a Igreja Batista têm, assim como outras
denominações protestantes passado por profundas transformações: sejam
culturais, sociais, e mesmo religiosa. Por mais que a comunidade mantenha sua
postura conservacionista, a Igreja tem sofrido uma forte pressão da sociedade
há alguns anos. Em um mundo globalizado, poucos são os que conseguem manter-se
isentos de influências e transformações. Dentro desta perspectiva, é importante
que a Igreja entenda que as famílias em geral, e a pastoral em particular, a
casa do pastor não mantém um mesmo padrão, ou estereótipo do passado. Ela sofre
influência como qualquer outra instituição. Para muitos, permitir que a Igreja
seja influenciada pela sociedade, é conduzi-la a uma secularização cujo
resultado final é a perda sua identidade, no caso, a Batista.
A Igreja, portanto, deve estar preparada para lidar com o
diferente. Novas práticas, ações, pensamentos, interpretações que não existiam
ou que são transformadas pela dinâmica da vida, com e neste mundo de grandes
mudanças e transformações. Aprender que as transformações, em seus mais
diversos sentidos são por diversas vezes necessárias, e nem sempre negativas.
Mesmo diante do desafio em que não há unidade de pensamentos, nem mesmo a forma
de agir dos batistas. A diferença é perceber que na diversidade todos podem
aprender.
1.2
Família
Outro agravante existente está na perspectiva em que os
pastores tendem a não perceberem que suas próprias casas, e famílias são focos
de tensão. Gary R. Collins[58] afirma
que os conflitos familiares é um problema quase universal. Famílias
problemáticas podem ser encontradas nas casas dos membros das comunidades, nas
casas de pessoas não evangélicas, seja de qual expressão religiosa for, e de
qualquer parte do mundo. A idéia falsa, de que a casa pastoral está isenta de
problemas é uma distorção da visão familiar que as comunidades possuem.
Preocupam-se apenas com seus próprios problemas. Tal formulação aponta a não
percepção com a realidade, as estruturas da sociedade refletem sobre a família
e o inverso é verdadeiro[59].
As famílias mais influentes na vida pública procuram exercer este poder também
nas comunidades, assim como patrões. É por estas razões que a opressão causada
a partir da comunidade batista se faz presente, impondo-se sobre a família do
pastor. Exigindo dela a perfeição, um exemplo admirável, um modelo a ser
seguido, porém nem sempre imitável em suas práticas com o próximo.
Manter uma relação saudável com a família exige do líder
estar atento para diversos tipos de necessidades que, individualmente, cada
família mantém. Estar atento não resolve o problema por si mesmo. Estar alerta
para o problema significa a necessidade em adquirir conhecimentos e fundamentar
práticas que permitam suprimir eficazmente as necessidades humanas, e em
particular na sua própria família. Collins[60] cita que os esforços mútuos como
disposição para transigir, e a experiência de aprender são meios que podem
muito ajudar o casal a aprender com suas próprias lutas e dificuldades. Collins[61] sinalizando diversas maneiras em se
manter o relacionamento familiar sadio, propõe que a comunicação seja utilizada
na busca de solução para os conflitos como algo necessário. Pode colaborar, e é
possível a não resolução definitiva de conflitos.
Entender que a família é um conjunto de subsistemas: o
casal, os filhos, os pais se relacionam dentro de espaços limites, também
denominados fronteiras[62] que
envolvem e dividem as relações baseados em regras que definem até onde quem
pode ser incluído ou excluído. O pastor pode inconscientemente impor fronteiras
a sua família ou a própria comunidade pode fazê-lo. Nesse sentido a construção
de limites que colabora para o desenvolvimento de cada subsistema se desenvolve
e se harmoniza. Poderia considerar em estabelecer fronteiras não demasiadamente
extensas e nem justas onde cada subsistema invade constantemente o outro.
1.3
A Vocação Pastoral
Antônio Carlos Santos afirma que o pastor consagrado
normalmente sabe comportar-se dignamente no exercício de sua nobre missão[63].
Destacar a aprovação do pastor a partir de sua relação
familiar será o foco, neste momento. Da aparência para a convivência, da teoria
a práxis pode haver uma considerável divergência. Ser obreiro aprovado
por Deus (II Tm 2.15) tem um duplo sentido. Ser aprovado por Deus, significa
antes, ser aprovado na práxis, e nas mais diversas relações humanas. Como as
relações são diversas e se dão em vários níveis, e de formas variadas, diante
de tantas possibilidades, seria impossível esgotar o assunto nesta obra.
Ser aprovado por Deus inclui ser um bom e justo pai, e
esposo (I Tm 3.1-11, Tt 1.6). Isto significa que o pai pastor e esposo pastor
têm sérios deveres com sua família (I Tm 3.4). Antes mesmo de estar preparado
para cuidar da comunidade, deve cuidar dos seus familiares. Não apenas de forma
preventiva, mas também na manutenção de uma relação familiar estável, para que
se tornem referência, não só diante da micro-comunidade, mas na
macro-sociedade, como seres influentes.
Discutir a questão do público e do privado na vida da
família pastoral é um desafio. Há um entendimento que o público se refere ao
dever do cidadão, enquanto seu direito se exerce na sua privacidade. A vida
privada do pastor e dos seus não é levada muito a sério. Há uma forte tendência
de fazer do privado o público - apesar de que na sociedade urbana existia uma
forte distinção entre a vida privada e a vida pública - Não porque o público
invade o privado, mas que o privado não existe. A inter-relação entre o público
e o privado no exercício do pastorado, devido a sua forma de ser e existir é um
fato, mas a tendência é não manter um equilíbrio sadio para as inter-relações
sistêmicas. Davi Merkh define este tipo de ação, o público invadindo o privado
como “vida de aquário”. [64] O
pastor deve proporcionar a sua família condições de poder ser simplesmente
família, apesar de suas importantes contribuições.
Outra contribuição possível é atribuir uma condição,
normalmente não aceitável, em que o Ministério seja considerado uma profissão,
apesar do princípio da vocação. Quase todo profissional, sofre com os desafios
da profissão escolhida. O exercício do ministério também os tem. A diferença
está em que, a demais famílias, salvo exceções, não participa diretamente da
profissão do pai, seja ele engenheiro, motorista, gari, e outras profissões. A
formulação da profissionalização permitiria a família do pastor uma maior
isenção em relação ao pastorado do pai pastor e do esposo pastor. O ministério
como profissão permite uma relação mais saudável com os vários papéis que uma
pessoa vocacionada para o ministério para o ministério pastoral tem além de ser
pai, irmão, marido, dentre outros, sem que a comunidade direcione a relação
intra-familiar do pastor.
A família necessita de tanta atenção e cuidado assim como a
Igreja de Deus[65].
Esta afirmação de Barrientos surge como um desafio para o pastor e a
comunidade. O micro-cosmo denominado família pastoral tem suas necessidades que
devem ser supridas pelo pai, em suas diferentes relações[66] de provedor, pai, esposo, juiz,
sacerdote e professor.
1.4
A Esposa
O pastor deve estar atento às necessidades familiares “é de
suma importância que o pastor tenha tempo para a sua família, principalmente
para sua esposa, para que em meio a tantas dificuldades, como já citado
anteriormente, a esposa não venha a ter a pior delas, que é a ausência do
esposo”. [67]
Continuando sua reflexão, De Paula faz a seguinte
consideração:
“Porque o pastor não pode vendar seus olhos diante da
realidade que cerca sua esposa, suas tensões, dificuldades, expectativas e
necessidades. Ao dar atenção às necessidades da esposa o pastor poderá evitar
momentos difíceis de crise familiar”. [68]
Diante de tantas mudanças e possibilidades tornar-se
difícil estabelecer o real papel da esposa do pastor. Como vimos anteriormente
à mulher ocupa cada vez mais espaço, e poder de influenciar a sociedade. Como a
esposa do pastor está inserida socialmente isto a desafia. Não somente a ela,
mas ao esposo pastor, e a comunidade, que não está por diversas vezes preparada
para lidar com o diferente e com o atual. Portanto, o desafio está posto para
todos.
A mulher pode agora escolher. Como anteriormente
mencionado, sua importância cresce nesta nova forma de ser da sociedade. A
mulher é sujeito de direitos. Assim as relações não devem ser mais impostas,
mas negociadas entre os envolvidos, sem contudo haver imposições que não
respeitem o indivíduo, e suas escolhas. Toda ação causa invariavelmente uma
reação, por esta razão as relações humanas devem estar baseadas em
entendimentos capazes de solidificar mutuamente os envolvidos, por mais
divergente que seja o assunto tratado.
Já Merkh concede as seguintes contribuições à forma de agir
da esposa do pastor[69]:
a. “Desenvolva uma rede de relacionamentos
com outras esposas de ministros.
b. Na medida do possível, participe de retiros e congressos
para ministros e suas famílias.
c. Procure uma senhora de dentro ou fora de
sua congregação com que você pode abrir seu coração sem medo de traição e
fofoca.
d. Desenvolva pelo menos uma amizade forte com alguém de
confiança dentro ou fora do seu ministério.
e. Continue crescendo como pessoa,
especialmente no sentido espiritual; acompanhe o progresso de seu marido
(cursos, fitas, leitura, etc).
f. Cultive sua amizade com seu marido.
g. Participe com seu marido, tanto quanto
possível,no ministério dele, sem prejudicar o bom andamento do seu lar.
h. Não permita que o “temor dos homens” (Pv. 29.25) determine
o que você fará ou não fará no seu ministério. Não basear sua vida na opinião
ou nas expectativas dos outros!
i. Não viva na sombra de outras esposas; seja
quem você é.
j. Eduque a congregação sobre o papel da
esposa do ministro”.
As sugestões proposta pelo autor demonstra que a esposa
deva se libertar de paradigmas e ser capaz de estabelecer uma rede de
relacionamentos capazes de lhe dar subsídios necessários para a interiorizar e
objetivar seus demais relacionamentos junto a comunidade e seu esposo pastor.
1.5
As Relações
1.5.1 – Sexualidade
A manutenção do casamento se baseia no relacionamento
dialogado entre a esposa e o esposo pastor. Nisto consiste a possível ausência
de possibilidades que possam trair a confiança entre ambos.
O ministério exige que o pastor esteja à disposição de
todos. Isto inclui tanto homens como mulheres. O pastor e a esposa devem
aprender a lidar com esta realidade com maturidade. Neste tipo de proceder não
há espaço para emoções de desconfiança ou de ciúmes. O pastor deve zelar pela
manutenção da vida. Seja do seu povo, seja deste mundo. Sua esposa deve
entender que seu esposo é um agente de Deus, colocado para servir aquele/a que
dele necessita.
Se um cuidado deve ser estabelecido, ele está na construção
da relação entre o esposo e a esposa e não deve envolver a comunidade, nem os
filhos. Manterem-se satisfeitos com suas necessidades físicas, emocionais,
afetivas e sexuais é indispensável à saúde psico-físico-espiritual da família.
É desejável que tanto a esposa, como o esposo, se ajudem mutuamente,
respeitando a identidade de ambos. O casal pode desenvolver de forma dialogada
um cotidiano de compromisso mútuo de suporte à escolha vocacional de cada um.
Essa convivência será salutar para o casal, a família e também para a igreja
onde ambos participam seja como pastor ou leigo/a.
A esposa tendo segurança em relação ao seu esposo
poderá ser de grande ajuda para o ministério, pois terá atenção a comunidade
sem que haja distorções causadas por emoções capazes de retirar o foco de
auxiliar seu esposo, seus filhos/as e sua comunidade. Semelhantemente o esposo
pastor deve ser integro em sua forma de agir em relação a sua esposa, e a sua
comunidade, principalmente em relação ao público feminino. É possível manter-se
amável, sem contudo, dar abertura para má interpretação por parte dos membros.
Isto é vocação, agir igual dentro e fora da igreja.
1.5.2 – Comunicação
Um dos melhores meios de evitar dificuldades nos
relacionamentos é a comunicação. Não que isto evite dificuldades,
mas é indispensável para lidar com tensões e conflitos nas relações no interior
da família pastoral. Viver uma dinâmica familiar que oportunize as expressões
de opinar os conflitos interiores, tristezas, frustrações de seus membros, é
vital para uma comunicação sem ruídos, provenientes da comunidade. Ademais
colabora na clareza do exercício de papéis na família, igreja e sociedade sem
fragmentar a identidade de cada um/a.
1.5.3 – Finanças
Elizabeth Stowell Charles Gomes menciona três
possibilidades neste sentido[70]:
primeiro que todos os pastores sofrem dificuldades financeiras, apesar de
muitas igrejas estarem a par da realidade e nada fazerem para diminuir este
sofrimento. Segundo, quando se encontra pastores que exercem junto com o
ministério uma profissão paralela, neste caso, segundo a autora, há
possibilidade de haver negligência em alguma área da vida ministerial, além de
estar sujeito a críticas da comunidade onde serve. A terceira possibilidade
está no pastor dedicar-se integralmente ao ministério, enquanto sua esposa
exerce uma profissão. Esta sugestão também é passível de críticas e cobranças
da comunidade. Porém são maneiras que podem ser úteis para resolver os
problemas financeiros da comunidade, ou diminuir a dependência financeira do
Pastor em relação a sua comunidade.
Outra possibilidade que tende a evitar ou diminuir as
tensões familiares está em manter um padrão financeiro baseado em um severo
controle orçamentário. Prevendo as despesas, mantendo controle da saída do
dinheiro. A prática exigirá da família determinação e disciplina para não se
render ao forte espírito consumista imposta pela mídia e na valorização
daquele/a que tem, e não no que é. A prática poupará que a família tenha
conflitos em seu interior devido ao dinheiro gasto erroneamente ou em excesso.
1.5.4 – Organização e Tempo
Este quesito, por mais irrelevante que possa parecer,
constitui uma das peças fundamentais nas relações familiares, principalmente na
família pastoral. O pastor tende a encontrar tempo para quase tudo, menos para
os seus. A comunidade demanda a maior parte do tempo do pastor. É comum que o
pastor esteja vinte e quatro horas do dia, sete dias da semana a disposição da
comunidade.
Organizar seu tempo exige disciplina e senso de
responsabilidade do pastor em cumprir seus objetivos. Utilizar o tempo de forma
eficiente permite uma melhor produtividade, desafia o ministro em exercer
sabedoria para cumprir com suas obrigações. Entre elas, com sua própria
família: esposa e filhos/as.
1.6
Os Filhos
Gomes cita que os filhos de pastor não devem se sentir
culpados por terem nascido em lares pastorais[71]. Tanto a comunidade como o pai pastor,
devem entender que os filhos não nascem santos. Ser filho/a de cristãos não os
torna cristãos. Deus não tem netos, apenas filhos/as. O desejo dos filhos/as é
que possam ter um pai autêntico. Que participe de suas vidas, que os orientem
em suas angústias, em direção a vida.
O pai pastor poderia ajustar-se às mudanças contínuas que a
sociedade e a família sofrem diariamente. Os filhos/as estão embarcados nestas
mudanças e muitas vezes ficam confusos em relação aos valores morais. Precisam
de constante orientação e ajuda. Os filhos necessitam de um pai que interceda
pelos seus filhos em constante oração, de um pai que constantemente esteja
orientando e de um pai que haja com disciplina quando necessário, sempre agindo
na base de um amor profundo pela vida de seus filhos.
Os filhos tendem a imitar seus pais, sendo os pais
ausentes, a quem imitarão? É a responsabilidade dos pais colaborarem com a
elaboração das estruturas da personalidade dos filhos.
1.7
A Comunidade
A Igreja, na Idade Média tomou para si o controle do
casamento e da vida familiar, impondo sobre ela seus conceitos de moralidade
sobre a vida íntima do casal[72].
Toda comunidade, repetindo este controle, tem suas expectativas em relação à
família pastoral e mais especificamente em relação ao seu pastor. Quando é
criado um clima de ansiedade em relação ao que o outro pode nos fornecer há
três possibilidades em relação ao retorno das expectativas: 1. que as
expectativas sejam cumpridas exatamente como a imaginamos; 2. que as
expectativas estejam aquém, e cause frustração, e 3. que as expectativas
estejam além dos desejos e que haja o sentimento de plena satisfação.
Não só a comunidade, como também o pastor, a esposa e os
filhos criam e alimentam suas expectativas, uns em relação a outros. Esta troca
contínua produz diversos sentimentos de frustração ou de plena satisfação para
cada um dos indivíduos.
Todos precisam saber lidar com este tipo de situação.
Aprender e crescer diante das experiências obtidas. A comunidade deve entender
que a família é composta de pessoas da mesma forma que as demais. Sujeita as
mesmas paixões e fragilidade de todo ser humano. Esta compreensão e aplicação
são necessárias no interior da comunidade, para a manutenção da saúde das
relações intra-pessoais e inter-pessoais. Este procedimento tende a manter um
equilíbrio das expectativas, não as supervalorizando, mas mantendo-se em níveis
aceitáveis. Para tanto é necessário um aprendizado nas relações, além de
cuidado em não extrapolar a normalidade. A visão de uma Igreja com presença
pública pode ser uma alternativa nas relações com a família pastoral. Quando a
Igreja coloca sua visão para fora e se envolve com a sociedade que a rodeia
diminui sua atenção, e consequentemente a cobrança junto à família pastoral,
além de valorizar a contribuição que as famílias podem dar[73]. Até mesmo porque a própria Igreja
é um grande sistema de relações. Construída a partir de subsistemas familiares,
individuais e outros, formam um ecossistema de múltiplas formas. Convém lembrar
que todos subsistemas são permeáveis e passíveis de limites[74]. A comunidade poderia agir em se tornar
uma rede de apoio não apenas as famílias da própria comunidade, mas também para
as de fora e principalmente criar formas de apoio e contribuição à família
pastoral[75].
Outra necessidade da família pastoral é o respeito a sua
identidade. Tanto a esposa, como os filhos possuem sua individualidade, caráter
e personalidade. Possuem nomes e rostos próprios. Querem ser vistos e
respeitados como seres humanos. Conhecidos não pelo seu grau de parentesco, mas
porque eles são pessoas juntos a outras das comunidades. Não são especiais e
nem inferiores a ninguém. Querem simplesmente ser respeitados, e manterem sua
dignidade.
1.8
O Pastor
John Monroe Landers menciona que o pastor batista é antes
de tudo um homem[76].
Isto é lógico, porém não é esta a visão que muitas pessoas da comunidade têm de
seu pastor. Alguns o têm como o Homem de Deus, outros vêem a presença de Deus
através dele. Outros o ouvem como se o próprio Deus estivesse falando por ele.
E há ainda aqueles que têm na pessoa do pastor um empregado sujeito ao humor da
comunidade.
Em meio a todas estas expectativas que surgem na
comunidade, o pastor tem que viver em e com sua família. Outros podem cuidar da
comunidade onde pastoreiam, mas ninguém pode cuidar de sua família, esta não
pode ser esquecida. O pastor juntamente com seu papel de pai e esposo exprimir
um testemunho de cristão também na sua família.
Isto exige do mesmo cuidados específicos com sua família.
Tempo é uma das necessidades familiares. Eles querem e necessitam de um tempo
para eles. Querem um pai e esposo presente em suas vidas, que convive, aprende
e examine-se no interior de sua família. Manter o telefone sob controle,
estabelecer dias de folga e cumpri-los, passar a noite com a família – em um
contexto urbano isto é quase impossível - preparar auxiliares para compartilhar
parte de suas tarefas pode ajudá-lo a obter mais tempo. Não se pode esquecer
das férias que podem ser úteis a todos: pastor, família e a própria comunidade.
Eugene Peterson[77] chega
a afirmar a necessidade de que o pastor deveria ter um ano sabático.
Estar presente na família e na igreja exigirá dele uma
distinção entre o urgente e o importante. Nem sempre o urgente da comunidade
deverá impor-se sobre o importante da família. A esposa e os filhos necessitam
de cuidados, muitos cuidados, assim como ele mesmo. Outra contribuição está no
desafio em construir fronteiras, meios de proteção aos componentes da família.
Alguns utilizam o seguinte pensamento: “o pastor aqui sou eu, e não minha
esposa ou minha família”. A visão de impor certo grau de profissionalismo pode
ser uma maneira menos traumática em definir as linhas fronteiriças entre a
comunidade e sua família[78].
Ensinar a comunidade o que é ministério é uma forma
inteligente e preventiva de evitar tensões e conflitos entre a mesma e a família.
Para o pastor adotar a psicossistêmica[79] de cuidado, tendo em mente uma nova
construção dos micros-sistemas até o a menor das estruturas, ou seja, o
indivíduo poderá ser um desafio. Contudo pode se mostrar como uma alternativa
na intervenção das relações. Será necessário um entendimento amplo que
ultrapasse a visão dos envolvidos.
A expectativa da comunidade em relação à família deve
ser a mesma que a comunidade espera de si mesma. A visão sistêmica justamente
defende a relação do estar juntos com a família e a família, em um processo de
cooperação mútua. Em uma Igreja Batista, não há – ou pelo menos não
deveria haver – divisão dos clérigos com os leigos, todos são sacerdotes diante
de Deus. Da mesma forma a perspectiva sistêmica define a interconexão entre
todos numa relação de reciprocidade. Exigir mais da família pastoral batista é
uma distorção da teologia batista e do equilíbrio[80] dos micro-sistemas. Para tanto as
relações devem dialéticas a fim de evitar a instabilidade e consequentemente conflitos.
Quando um pastor se exime de ensinar estes princípios a sua
comunidade está transferindo o problema para seu sucessor. Muitos pastores não
possuem esta visão, pois naturalmente não se preocupam em zelar e prevenir
cuidados para sua família e comunidade.
Merkh, concede a seguintes contribuições aos pastores no
diálogo com suas esposas:[81]
a. “Reconheça as dificuldades únicas que sua
esposa enfrenta e mostra simpatia e compaixão quando necessário.
b. Cultive sua amizade com sua esposa.
c. Demonstre que você é um homem comprometido
exclusivamente à sua esposa física, emocional e espiritualmente (I Tm 3:2).
d. Envolva sua esposa em seu ministério, sem tirá-la de seu
papel como esposa e mãe.
e. Não permita que as expectativas da
congregação ditem o papel de sua esposa no ministério.
f. Encoraje sua esposa a participar de
encontros, retiros, e congresso junto com você.
g. Encoraje sua esposa a desenvolver uma
amizade profunda com pelo menos uma pessoa da idade dela.
h. Tire um dia de folga.
i. Reserve pelo menos duas noites por semana
em casa com sua família.
j. Participe “da vida comum do lar” junto com
sua esposa, envolvendo-se na disciplina, na instrução, e no divertimento junto
com seus filhos.
k. “Desligue-se” do seu serviço quando você está em casa”.
l. Tire férias com a família.
Gomes diz que é mais fácil um Pastor ser criticado do que
imitado[82].
Este é um grande desafio para aquele que vocacionado por Deus tem de lidar com
estas ambigüidades.
Conclui-se este capítulo na expectativa em fornecer pistas
que colaborem na construção de uma melhor relação primeiramente dentro da
própria casa pastoral: entre o pastor e sua esposa juntamente com seus filhos.
Em segundo, na relação que a família conjuntamente pode se relacionar
sadiamente com a comunidade onde está inserida. O desafio é múltiplo: para o
pastor, para a esposa, filhos e comunidade.
Conclusão
A confecção do primeiro capítulo baseou-se em fontes
primárias, utilizando documentos da Igreja Batista. No segundo capítulo
utilizou-se de fontes secundárias que tratavam de algumas formas de conflitos
ligados ao ministério, basicamente outras monografias. No terceiro capítulo
bases teóricas foram utilizadas na busca de construção de contribuições
possíveis em serem aplicadas.
Quando foi proposta a pesquisa do tema dos conflitos e
tensões na família pastoral: a partir da Igreja Batista, havia uma suspeita que
não haveria muito material teórico que pudessem dar contribuições para reflexão
da temática. Infelizmente esta suspeita foi comprovada. Há falta de material
que trate de maneira objetiva os conflitos e as tensões na casa pastoral. Por
outro lado, vimos que alguns discentes desta instituição têm pesquisas sobre
temas relacionados à família do/a pastor/a.
Alguns, após a leitura desta monografia terão uma visão
negativa do ministério pastoral no sentido da tensão existente sobre a família:
esposa, filhos e filhas. As tensões existem em todas as famílias, e os
conflitos também. O que difere uma experiência de outra, é a intensidade, e a
duração que estes conflitos surgem ou perdurem até que sejam resolvidos ou
interiorizados.
Infelizmente há uma forte tendência em ignorar as
dificuldades que a família do/a pastor/a enfrenta. Difícil saber explicar
porque o assunto não é claramente discutido na formação dos novos pastores,
durante seus estudos. Pastores experientes não têm dado sua contribuição tanto
aos pastores, as famílias e as comunidades. A omissão contribui com a
vergonha de muitos pastores em buscar ajuda e orientação que possa colaborar
com a saúde das relações familiares e com a comunidade.
Apesar da problemática, o ministério mantém sua importância
na vida desta humanidade. O pastor é um dos anunciadores da graça e do amor de
Deus. Em momentos que o perdão seja necessário ou na voz profética de denúncia
em relação à injustiça.
Como mencionado anteriormente, todas as famílias tem
momentos, curtos ou longos de conflitos. Este trabalho procurou demonstrar
algumas delas, citando diversos exemplos e forma de imposição de modelo da
família do pastor. Percebe-se que a comunidade detém o poder através de meios
materiais, como salários, benefícios, casas pastorais e outros meios.
O equilíbrio é fundamental para o estabelecimento sadio
relacionamento entre os membros da família pastoral. Não só diante da própria
família, mas da comunidade, e também consigo mesmo. Este é um desafio para o
pastor e para o desenvolvimento do ministério pastoral sem extremismos.
Claro que as ações geradoras de conflitos e tensões variam
de comunidade a comunidade. De denominação a denominação, de região para
região, e finalmente cada casal reage de forma diferente em relação a uma mesma
situação. O desafio que o tema nos deixa levanta é: como os novos pastores e
suas famílias sejam privados de passarem por situações de tensões e conflitos.
E incentivar que tema como este esteja presente na preparação teóricas
daqueles/as que desejam exercer o ministério pastoral.
Referências:
1.
Bibliografias.
ADAMS, Jay E. Conselheiro capaz. Trad.
Odayr Olivetti. 4a. Ed. São Paulo: Editora Fiel, 1984. 267 p.
________. O manual do conselheiro cristão. Trad.
João M. Bentes. 2a. Ed. São Paulo: Editora Fiel, 1986. 432 p.
Associação Brasileira de Aconselhamento. Fundamentos
Teológicos do Aconselhamento. São Leopoldo: Sinodal/IEPG, 1998. p.
5-78.
BARTH, Karl. Introdução à Teologia
Evangélica. Trad. Lindolfo Weingartner. 5ª. Edição. São Leopoldo:
Sinodal, 1996. 128 p.
BEACH, Raymond. Nós e nossos filhos. 4a.
Editora Santo André: Casa Publicadora Brasileira, 1975. 223 p.
CLINEBELL, Howard. Aconselhamento Pastoral – Modelo
Centrado em Libertação e Crêscimento. São Paulo: Paulinas, 1987.
Capítulos 2, 3 e 5.
COLLINS, Gary R. Aconselhamento Cristão. Trad.
Neyd Siqueira. São Paulo: Soc. Religiosa Vida Nova, 1988. 389 p.
CULVER, Robert et al. Mulheres no ministério:
quatro opiniões sobre o papel da mulher na igreja. Trad. Oswaldo
Ramos. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1996. 301 p.
DANTAS, Anísio Batista. O pastor e seu
ministério. São Paulo: 1990. p. 278
DE PAULA, Clodoaldo Antônio. (Monografia de Termino de
Conclusão de Curso) Ministério Pastoral: Atribuições e Tensões na
Atualidade. Monografia. São Bernardo do Campo: 1998. 76 p.
FERREIRA, Ebenézer Soares. Manual da igreja e do
obreiro. 6a. Edição. Rio de janeiro: Juerp, 1989. 232 p.
GOMES, Elizabeth Stowell Charles. A Esposa. São
Paulo: Refúgio, Gráfica e Editora, 1979. 90 p.
GULA, R. M. Ética no Ministério Pastoral. São
Paulo: Loyola, 2001. p. 41-49.
JOSUTTIS, M. Prática do Evangelho entre Política e
Religião. São Leopoldo: Sinodal, 1982. p. 7-37.
LAHAYE, Tim. & LAHAYE, Beverly. O ato
conjugal. Trad. Myriam Talitha Lins. 6a. Edição. Belo Horizonte:
Editora Betânia, 1984. 271 p.
LAZIER, J. A. O Carisma no Ministério Pastoral. São
Bernardo do Campo: Editeo, 2003.
MATTOS, P. A. Pastoral Metodista - ontem, hoje,
amanhã. São Bernardo do Campo, IMS/Faculdade de Teologia, 1987. p.
1-26.
NETTO, Dirceléia de Oliveira. (Monografia de Termino de
Conclusão de Curso) Família Pastoral sob a Ótica dos Filhos de Pastores
e Pastoras. Monografia. São Bernardo do Campo. Outubro, 2004.
101 p.
PEARLMAN, Myer. Manual do ministro. Trad.
Luiz Aparecido Caruso. São Paulo: Ed. Vida, 1991. 96 p.
PETERSON, Eugene H. & DAWN, Marva J. O pastor
desnecessário: reavaliando a chamada para o ministério.Trad. Cláudia Ziller
Faria. Rio de Janeiro: Ed. Textus, 2001. 237 p.
PETERSON, Eugene H. O pastor contemplativo:
voltando à arte do aconselhamento espiritual.Trad. Neyd Siqueira. Rio
de Janeiro: Ed. Textus, 2002. 190 p.
______. Um pastor segundo o coração de Deus: a
forma da integridade pastoral.Trad. Cláudia Moraes Ziller. Rio de Janeiro:
Ed. Textus, 2000. 182 p.
PRICE, Eugenia. De mulher para mulher. 6a.
Ed. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1986. 198 p.
RIGGS, Ralph M. O guia do pastor. 3a.
Ed. Trad. João Marques Bentes. São Paulo: Ed. Vida, 1992. 268 p.
SANTOS, Antônio Carlos. (Monografia de Termino de Conclusão
de Curso) Vocação e Ministério Pastoral. Monografia. Local:
São Bernardo do Campo. Novembro, 1999. 86 p.
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cristoph, org. Teologia
Prática no Contexto da América Latina. Local: São Leopoldo,
Sinodal/IEPG, 1998. Capítulo 13.
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cristoph & STRECK, Valburga
Schmied. A Esposa de Pastor: Identidade entre Família, Profissão e
Igreja. Revista Estudos Teológicos. São Leopoldo: 1995. pp 133-145.
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cristoph & STRECK, Valburga
Schmied. Imagens da Família: Dinâmica, Conflitos e Terapia do Processo
Familiar. São Leopoldo: Sinodal, 1996. 170 p.
STRECK, Valburga Schmiedt. Terapia Familiar e
Aconselhamento Pastoral: Uma Experiência de Famílias de Baixos Recursos. São
Leopoldo: Sinodal, 1999. 384 p.
SILVA JR. Nelson da. (Monografia de Termino de Conclusão de
Curso) Implicações da itinerância na vida familiar do/a pastor/a
metodista no Brasil. Monografia. Local: São Bernardo do Campo. Julho,
2003. 104 p.
STEINKAMP, H. A relação entre cuidado de si e
cuidado dos outros. In: Estudos Teológicos. Local: São Leopoldo:
Sinodal, 39 (3), 1999. p. 271-290.
SULLIVAN, Bárbara. A mulher que quero ser: o
equilíbrio delicado da auto-imagem feminina.Trad. Wanda Assumpção. 2a.
Ed. São Paulo: Ed. Mundo Cristão, 1988. 116 p.
WIERSBE, Warren W. A crise da identidade. Trad.
Emma Anders de Souza Lima. São Paulo: Ed. Vida, 1989. 111 p.
2.
Publicações periódicas.
AGRESTE, RICARDO. Pastor & Igreja: Uma relação
(conjugal) em crise. Revista Ultimato. Viçosa, Ano 37, n.
291, p. 24-26, nov/dez. 2004.
ECLÉSIA. São Paulo: Ed. Eclésia, diversos.
MARTINS, JOSÉ CÁSSIO. Pastor precisa de Pastor? Revista
Ultimato. Viçosa, Ano 37, n. 291, p. 28-29, nov/dez. 2004.
MATTOS, Alderi Souza. Pastoreia minhas ovelhas: O
ministério cristão em perspectiva histórica. Revista Ultimato. Viçosa,
Ano 37, n. 291, p. 46-49, nov/dez. 2004.
ULTIMATO. Viçosa: Editora Ultimato, Ano 37, n.
291, nov/dez. 2004.
3.
Bíblias.
BÍBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução de
João Ferreira de Almeida. 2 ed. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.
Edição revista e atualizada no Brasil.