quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Aconselhamento Pastoral

A atividade do aconselhamento pastoral  tem as suas raízes já na Igreja Antiga e deve-se à tradição do platonismo que transparecia no conceito de cura d’almas no qual subentende a salvação da alma imortal através da confissão e absolvição. O aconselhamento pastoral é uma dimensão da koinonia e por isso entende-se que nele há elementos litúrgicos bem como existe também o significado poimênico na catequese, liturgia diaconia e missão. Ainda na Igreja antiga, a centralização do poder no monarquismo episcopal  entregou o aconselhamento nas mãos dos bispos e presbíteros dando-lhes um caráter mais jurídico. A missão da poimênica hoje é dar calor, alento, sustento e cuidado às pessoas que abrem seus corações em meio ao desespero na busca de esperança. 

O aconselhamento pastoral faz teologia à medida que aplica as verdades bíblicas e as testa na arena da vida real. Portanto  o aconselhamento fundamenta-se na integralidade do ser que deve ser buscada dentro da própria natureza humana e não fora dela. Isto se torna possível através de Jesus Cristo que é o símbolo máximo da valorização da experiência humana por Deus. A busca da integralidade é um processo contínuo e não estático. Ela deve ser buscada sempre com a consciência de que nunca será atingida pontualmente, mas sempre gradativamente. O crescimento ou progresso em busca da integralidade pode ser notado através de dois importantes fatores: o amor aceitador nos relacionamentos humanos e a confrontação honesta e sincera. 

Como o modelo centrado no crescimento em busca da integralidade defende a comunidade terapêutica, podemos dizer que a ligação prática destes conceitos em uma comunidade se dá à medida que ocorre a encarnação da graça de Deus – limitada e fragmentária, porém transformadora – através dos relacionamentos de ajuda. O aconselhamento pastoral deve influenciar a diaconia alertando-a do dever de  ouvir a voz do necessitado ao invés de oferecer uma ajuda “surda” e insensível às reais necessidades do oprimido. Tal fenômeno pode acontecer, e é explicado como a “síndrome do prestador de ajuda”. Isto se dá à medida que aquele que se envolve, dificilmente fala de seus próprios problemas. É um fenômeno narcisista. Para que a ação de diaconia seja relevante e eficaz é necessária à compreensão do pobre como vítima inocente de um sistema injusto.

As perspectivas (caminhos necessários) para o aconselhamento na América Latina são o respeito à cultura e religião do outro, diálogo necessário e entendimento de comunidade cristã como processo de comunhão solidária entre Deus e suas criaturas bem como criaturas e criaturas. O modelo holístico, centrado em libertação e crescimento compreende a utilização por pessoas que exercem o ministério, de relacionamento de indivíduo para indivíduo ou de pequeno grupo para possibilitar a ocorrência de potencialização curativa e de crescimento. Seu objetivo maior é a libertação mais plena possível das pessoas na totalidade de seus contextos relacionais e sociais. 

É libertar o potencial criativo que há dentro das pessoas. Neste modelo o crescimento é integral. Não há crescimento em uma área isolada de vida mas em todas juntas. As principais áreas são a superação da alienação em relação ao corpo, enriquecimento da rede de relacionamentos, aumento da consciência e cuidados ecológicos e finalmente um relacionamento aberto com o Espírito amoroso que é fonte de toda a vida. Esta integralidade deve ser buscada e alcançada em cada estágio da vida uma vez que nesses estágios surgem diferentes crises inerentes a cada um deles. Podemos chamar essas crises de desenvolvimentais. 

Há um outro tipo de crise que chamamos de acidentais. O principal objetivo do aconselhamento é à busca da reação positiva às crises de tal forma que elas sejam geradoras de oportunidades de crescimento. Neste modelo, quatro funções poimênicas são destacadas: Cura, sustentação, orientação e reconciliação. Neste sentido, a teoria de sistemas ajuda a entender que o aconselhamento nunca lida com indivíduos isolados, mas eles fazem parte de uma rede de relações (família, vizinhança, trabalho, etc) e estas relações determinam fatores importantes de suas vidas. As perspectivas práticas deverão se dar com a consciência de que o povo brasileiro nunca deixou de ser profundamente religioso (mesmo na pós-modernidade) e que é um povo de pluralidade de raças e culturas. O diálogo será fundamental. 

Aliás, o diálogo é um imperativo divino. No aconselhamento a busca da ética racional e universal que seja plausível para todos também é outro aspecto extremamente relevante. Estas considerações se darão na prática com o redescobrimento da comunidade cristã como espaço e comunicação, pastoral da convivência de pequenos grupos e valorização da experiência particular do sujeito.

O poder dentro do aconselhamento pode ser conectivo ou separativo. A forma conectiva é a benéfica que atua na integralidade da pessoa reconfigurando-a pessoal e publicamente. O poder separativo – que opera pela vergonha – desconecta e controla as pessoas tornando-as massa de manobra a serviço de outras forças. As Igrejas históricas não conseguiram ser comunidades terapêuticas, pois, não se tornaram presentes de forma eficaz nos momentos cruciais da vida das pessoas. Seu trabalho estava centrado no púlpito visando levar os fiéis a Cristo. 

Em decorrência disso historicamente houve um movimento para o pentecostalismo, e espiritismo, devido estas expressões religiosas terem “melhores respostas” a estas questões. Portanto o principal desafio do aconselhamento pastoral na atualidade  é oferecer ajuda através do relacionamento pessoal. Isto se refletirá na teologia do aconselhamento pastoral: “Ninguém salva ninguém ou se salva sozinho! Só nos salvamos em conjunto!” O ser humano tem carência de atenção, afeto e principalmente complementaridade. Isto é claramente observado na linguagem bíblica do corpo de Cristo usada por Paulo. Ministramos cura e edificação uns aos outros. É o sacerdócio universal de todos os crentes. 

As principais implicações práticas serão o treinamento de lideranças voluntárias, consciência das características excludentes de nossas comunidades visando sua eliminação e o trabalho com pequenos grupos.

Bibliografia
Associação Brasileira de Aconselhamento. Fundamentos Teológicos do Aconselhamento. Local: São Leopoldo, Sinodal/IEPG, 1998. p. 5-78.
CLINEBELL, Howard. Aconselhamento Pastoral – Modelo Centrado em Libertação e Crêscimento. Local: São Paulo, Paulinas, 1987. Capítulos 2, 3 e 5.

SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cristoph, org. Teologia Prática no Contexto da América Latina. Local: São Leopoldo, Sinodal/IEPG, 1998. Capítulo 13.

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