DREHER,
Martin N. A Igreja no Império Romano. 4a ed. Local: São Leopoldo, RS Editora
Sinodal, 1993. 96 p. Coleção História da Igreja. Volume I.
I – História Eclesiástica
O autor comenta da pouca importância da História
Eclesiástica dentro do estudo da Faculdade de Teologia. O assunto deve ser
revisto pois a revelação de Deus ao homem se torna um fato histórico. Como
exemplo cita o povo judeu consciente de sua história desde o Egito, sabendo o
que e quem são. A história para estes não é um fim e sim um meio que os levará
a um fim. Esta memória continua através dos tempos, enquanto os judeus aguardam
o messias nós aguardamos o seu retorno. Sem memória não há esperança e sem
esperança a memória se esvai. A lembrança é algo essencial para os cristãos
relembram por diversos rituais tendo em mente a memória cristã. Estudar a
história da Igreja é reviver e viver o que Deus realizou e esta a realizar.
II – Império Romano na Época do Nascimento de Cristo
O Império Romano dominava uma área que abrangia a maior
parte do mundo conhecido na época sendo unificado na figura do Imperador que
detinha o poder baseado nas legiões, além do Senado que não exercia poder. O
Império era dividido em províncias: Imperiais, Senatoriais e Especiais estas
com um cuidado por serem regiões com culturas próprias. Cada província tinha
uma espécie de assembléia, chamada concilium,
que participava da administração regional. O Império continha uma infinidade de
povos, culturas, raças e a unificação da cultura era pretendida e exercida pela
administração, pelo exército e comunicação entre as partes imperiais. A mistura
através do comercio de escravos, a movimentação das legiões, o comércio transformaram
várias cidades em centros culturais onde haviam pessoas de todas partes do
mundo. A conclusão se dá no grande responsável pela unificação: o helenismo. A
cultura trazido por Alexandre, a grega através da língua, costumes, utensílios,
arte, literatura, filosofia e religião se espalharam por todo o Império. O
mundo greco-romano foi influenciado pelos helenistas, judaísmo, a fé cristã e o
culto a Mithras.
III – Situação Religiosa no Império Romano
Haviam diversos cultos. As diversas culturas, a liberdade e
a tolerância faziam com elas se espalhassem por todo Império. Os cultos que
exigiam sacrifícios humanos ou orgias foram proibidos. Várias religiões
desapareceram com o helenismo, surgindo os cultos de mistério e no Oriente o
culto ao Imperador. No século 4º AC surgiram cultos egípcios e orientais
com crença nas estrelas e contrapondo a magia. Vários cultos também surgiram
trazidos por comerciantes, soldados e escravos. O culto ao deus Mithras,
atraindo muitos homens, principalmente soldados e tendo sua data de nascimento
transportado ao do nascimento de Cristo. O Culto ao Imperador, com raízes no
Oriente. O livro de Daniel relata tal prática. O sincretismo religioso teve
importância na mistura religiosa surgindo uma unidade de religiões com a qual a
fé cristã teve de lutar. A salvação não era algo apenas cristão mas de várias
religiões com um salvador, com ceia, batismos, renascimentos, nova vida, perdão
entre outras práticas. Tudo isto contribuiu para a formação de uma fé
monoteísta. A filosofia entre os mais cultos era o caminho a seguir.
IV – Palestina e Judaísmo Palestino
A Síria uma província das mais exploradas e tendo a Judéia como parte.
Residiam ali muitos judeus mesmo após a diáspora. Houve também a revolta dos
Macabeus e a influência helenistica. Herodes se tornou o rei daquela região e
vida religiosa dos judeus estava em partidos. Os zelotes lutavam pela
libertação em relação a Roma, provável que muitos discípulos faziam parte deste
partido. Os judeus podiam ser encontrados em diversas cidades do Império.
Mantinham sua unidade em termos de cultura e religiosidade. Jerusalém era um
centro político e religioso. Podiam manter em qualquer lugar que morassem suas tradições e participavam da vida social
e comercial do Império, alguns sendo cidadãos romanos. A unidade fez do judaísmo um movimento
missionário. Na cidade de Alexandria, no Egito o VT foi traduzido paro o grego
formando a Septuaginta (LXX). Na
época do nascimento começava a surgir o anti-semitismo, algo sempre presente em
maior ou menor grau. Um dos motivos fosse os princípios de uma religião
diferenciada.
V – Plenitude do Tempo
A plenitude do tempo é antes um
ato de fé, sem explicação clara. Os escritos do Novo Testamento não são atos
históricos mas de pregação, de confissão
e expressão de fé. Os textos bíblicos não podem se calar diante da
pesquisa. Não podemos tratar de um Jesus “histórico” mas de um Jesus “terreno”
da qual nasceu a igreja e os cristãos. A mensagem do Reino de Deus irrompeu com
a vinda de Jesus, permanece. Não uma sabedoria mas um descobrimento, o da fé em
Jesus a verdade de Deus.
VI – Comunidade de Jerusalém
Jerusalém é a mãe do cristianismo
por todos acontecimento que tiveram lugar nesta cidade. Citando
características: movimento causado pela atividade missionária e a prática do
batismo, permaneciam juntos, estabeleceram um nova forma de culto nos lares,
encontra-se o líder da comunidade: Tiago, a mudança da adoração para o Domingo
e outros dias de adoração e o recebimento de cristãos helenistas levando a
ênfase missionária aos gentios.
VII – De Jerusalém a Roma
Paulo se tornou o missionário
entre os gentios, sua formação muito contribui para o sucesso de seu trabalho,
não sem enfrentar dificuldades com outros Apóstolos em relação a Lei e a fé na
graça que liberta. Apresentou uma nova visão dos acontecimentos presentes e
futuros em relação a salvação o que contribuiu para o crescimento da fé cristã.
VIII – Comunidades gentílico-cristãs, posteriores a Paulo
As comunidades podem ser
entendidas através dos escritos do Novo Testamento, dos pais da igreja e dos
evangelhos e dos atos apostólicos. Com o passar do entusiasmo a institucionalização
foi perpetuada criando espaço aos clérigos criando a autoridade episcopal com
Bispos, Presbíteros e Diáconos. O culto passa pela mesma transformação,
estabelecendo costumes fixos. Estas mudanças alteram a fé e a doutrina baseadas
nas cartas paulinas e no batismo neste momento os evangelhos foram redigidos e
os apócrifos rejeitados. O centro era a fé em Cristo visto como o próprio Deus.
A prática da penitência e a abstenção de alimentos foram estabelecidos como o
cuidado social dentro da comunidade. A
maioria dos membros era de pobres, muitos escravos e o início da acepção de
pessoas pelo que faziam. Só no início do século III começam a surgir locais
exclusivos para culto.
IX – Heresia e catolicidade
A jovem Igreja desde cedo
começa a enfrentar os inimigos que surgem em forma de heresias, saídas do seu
interior. A gnose foi criada originalmente por Zoroastro e com o passar do
tempo foram tomando formas diferenciadas. A gnose cristã misturava o
sincretismo, a fé e principalmente a sabedoria com elementos místicos. Seu
maior representante foi Valentino na época do ano 170. Marcião, expulso da sua
comunidade de origem negava a posição cristã em relação ao AT, criticava o Deus
dos judeus e a sua justiça, criou uma coleção de escritos e defendeu as teses
de dois deuses, Cristo não tinha um corpo. Neste confronto a Igreja estabeleceu
sua primeira confissão de fé. O Montanismo (ano 156), através de Montanus se
voltou contra a institucionalização da Igreja. Sua doutrina era voltada para
glossolalia, para um fim de mundo próximo, que por seu intermédio falava o
Espírito Santo dizia ser a expressão final do Pai, Filho e Espírito. Combatia a
hierarquia e os sacramentos. Seu movimento era disciplinado e houve um grande
crescimento, seu maior adepto foi Tertuliano. Cipriano, um dos criadores do
primado de Pedro, inclui ai a sucessão apostólica através dos Bispos e que o
episcopado monárquico era uma instituição de Jesus Cristo. Estes ensinos
transformaram a igreja abrindo as portas para o papado.
X – Formação do cânone neotestamentário e a mulher na Igreja Antiga
A questão da mulher. Nos tempos
antigos era considerada sem valor. Nos estudos dos escritos não se consegue
admitir que as mesmas ocupem lugares de destaque. O autor faz diversas
colocações pró e contra a presença ativa da mulher no período neotestamentário
sem contudo chegar a uma conclusão, enquanto na tradição cristã antiga a mulher
é vista como cristã tempo depois a mesma situação é considerada heresia e o
autor conclui que a mesma heresia é a igualdade de todos os cristãos
contrapondo o pensamento judaico. Jesus inclui e não fez exclusão de ninguém.
XI – Fé cristã e filosofia
O cristianismo teve se confrontar
com as várias correntes filosóficas. O estoicismo com sua racionalidade, os
platônicos, os sofistas. Uma maneira encontrada de combatê-los foi encontrada
com Paulo utilizando uma concepção cristológica. Mais tarde alguns apologetas dialogaram
com os filósofos não sem influências destes. Justino viu no Logos, um conceito
grego a consumação em Jesus. Pensadores como Sêneca foi aceito por muitos cristãos
por sua semelhança a fé cristã. O estoicismo encontrou aceitação no mundo
cristão. Houve outros que combateram a fé como Celso que utilizando da razão
questionava os cristãos. Clemente foi um dos expoentes. Orígenes abriu a
primeira escola teológica e desenvolveu todo um estudo crítico dos textos
sagrados, seus escritos eram dirigidos a uma elite de pensadores. Por fim a
filosofia, o helenismo e a fé cristã se fundiram.
XII – O Imperador e os cristãos
Os cristãos primitivos eram
obedientes as autoridades, não obstante a lealdade era provada quando do culto
ao Imperador, um costume oriental tendo Augusto como o maior expoente. Nero,
com uma acusação infundada perseguiu e matou muitos cristãos depois de
condená-los por terem incendiado grande parte de Roma. Com a sua morte e na s
sucessões de Imperadores haviam aqueles que tratavam os cristão com tolerância
e outros os perseguiam da mesma forma que havia liberdade para os cultos
pagãos. O que estava em jogo era a fidelidade dos cristãos ao Estado. Quando da
crise no Império os Imperadores tentavam restabelecer a adoração aos deuses e
ao Imperador, tendo o deus Mithras o senhor do Império Romano. Após várias
lutas pelo poder Constantino sobe ao trono e começa a dar a Igreja liberdade em
troca de apoio mútuo em busca de interesses.
Constantino tornou-se o senhor da
Igreja. Suas intenções eram políticas pois tendo a igreja sob seu controle o
Império podia repousar em paz, a este processo chama-se cristandade. O culto ao
deus Mithras tinha muito da característica cristã. A tradição cristã viu em
várias narrativas uma conversão de Constantino que se tornara o dono da igreja
e todos lhe deviam obediência. A primeira dificuldade do Imperador foi o
levante dos Donatistas, eles não aceitavam a nomeação de Bispos que haviam
fugido do martírio, o Imperador não conseguindo impor sua decisão e o movimento
continuou existindo até o V século. Outra questão levantada era quem é Jesus
Cristo, a questão levou a igreja a debates, os arianos tentando provar que
Jesus fora criado por Deus, não tendo a mesma essência (ousia) e os ortodoxos dizendo
que Jesus era o próprio Deus inclusive em essência. Para discutir o assunto foi
realizado o primeiro Sínodo ou Concílio em Nicéia em 325, a questão avançou por
muitos anos ora uma posição sendo vencedora ora outra. Com a morte de
Constantino outros Imperadores vieram mas
no final do século IV a Cristandade estava estabelecida, debaixo da
forte mão do estado.
XIV – Doutrina e a vida da Igreja
Roma se tornou a maior comunidade
cristã do Império apesar de ser colocada de lado em momentos importantes. Com a
transferência da capital para Constantinopla a política se transferiu para o
oriente. Na metade do século V Roma tenta uma reviravolta com uma lenda em que
Constantino teria doado a Silvestre e a seus sucessores os Estados Papais. Com
Dâmaso realizou-se um sínodo em que solicitou ao Imperador a supremacia em questões
jurídicas, em questão de tempo os decretos papais tinham valor idênticos aos
dos concílios daí surgindo os primeiros “papas” . Leão I foi o primeiro para de
renome. No início do século V o Império Ocidental ia desmoronando. A velhas
questão quem é Jesus volta a cena. O batismo era postergado até o último
momento, crianças começaram a ser batizadas quando enfermas, os mártires eram
venerados, adorados e seus objetos tinham poder de realizar milagres com a
benção da Igreja, não demora muito até o culto aos santos e imagens. Os
clérigos não eram exemplos a ser seguidos. Maria começa a ser venerada.
Jerônimo traduziu a Septuaginta para o latim, conhecida como Vulgata. Surge a
pessoa de Agostinho, trazendo sua conformação latina.
XV – Qual é o rico que se salva ? Temática da riqueza e a pobreza na Igreja Antiga
O mundo dos primeiros cristãos
era marcado por desníveis sociais e que a questão do direito a riqueza foi
matéria de controvérsia entre os cristãos pois o nível social estava ligado a
riqueza do indivíduo. O autor faz um exposição sobre os textos bíblicos de Mc
10.21-23, 26 e Mt 19.16-30 onde Jesus trata do assunto. Em 130-140 Hermas vem
com uma interpretação de um sonho defendendo que ser cristão e ter riquezas são
coisas irreconciliáveis, os escritos de Tito caminham na mesma direção.
Tertuliano por sua vez faz um estudo sobre os textos acima e declara que a
propriedade e a riqueza seguram a pessoa. Clemente no ano 200 defende que
nenhum mal há nas propriedades e na riqueza desde que façamos bom uso delas sem
maldade no coração que os ricos lembrem que do tesouro prometido no céu, o uso
apropriado da riqueza está em servir ao próximo com amor como um serviço a Deus
pois tudo pertence a Ele. Na metade do século IV os pais da igreja criticam o
acúmulo de propriedades nas mãos dos ricos e em 370-397 Basílio defende que as
propriedades sejam compartilhadas com os pobres e sem assim não o fizessem
considerava roubo pois as mesmas pertenciam a Deus, e com isso ao pobres.
Segundo ele se as riquezas fossem distribuídas não haveria pobreza. Gregório de
Nazianzo compartilha da idéia de auxiliar os pobres com esmolas, mesmo ele não
dividiu seus bens com os pobres. João Crisóstomo faz uma critica aos
latifundiários que exploravam o ser humano e sua dignidade inquirindo sobre a
origem da riqueza, Crisóstomo foi um líder religioso que quis eliminar a
pobreza e não as causas. O fato é que a Igreja se contentou com as esmolas em
trocas de bênçãos divinas.
XVI - Final da história
da Igreja Antiga
O fim da Igreja antiga é marcada
com o papado e a degeneração do estado Romano enquanto no oriente havia
rivalidades entre os patriacardos de Alexandria e Constantinopla. O tema
cristólogico permanecia, os de Alexandria defendiam que Maria dera a luz a um
Deus, os que defendias eram monofisitas. O grupo de Antioquia defendia a dupla
natureza de Jesus: a humana e a divina. Em 428 surge Nestório defendia que
Maria era paridoura de Cristo trazendo contra ele a ira do clero,
principalmente de Alexandria, este foi o motivo do Concílio de Éfeso no ano 431
quando Cirilo vence levando Nestório ao exílio e a morte. Alguns anos depois
Eutiques afirma que o corpo de Cristo não era humano trazendo uma nova confusão
culminando num Concílio em Éfeso no ano 449. Flaviano discordava da tese e
obteve o apoio de Leão I a princípio contrário mas por questões políticas
defendeu Flaviano. Os monges de Dióscoro vindo de Alexandria espancaram os
concorrentes levando Flaviano a morte e a derrota de Leão I. Marciano, anulou
as decisões de Éfeso e em 451 deu-se o 4º Concílio Imperial que
restabeleceu a Flaviano tendo por base as encíclica de Leão I. Neste momento
também foi reconhecido que o patriarca de Constantinopla tivesse a mesma autoridade
do bispo de Roma, o que era inaceitável, o que viria a ser a cisão da Igreja
latina e Oriental. Vários movimentos políticos se sucederam. O Império estava
restrito a Itália. A cisão entre o ocidente e oriente aconteceu após o
excomungar do patriarca de Constantinopla. As igrejas monofisitas permanecem
até hoje.
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