quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A Igreja no Império Romano.

DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano. 4a ed. Local: São Leopoldo, RS Editora Sinodal, 1993. 96 p. Coleção História da Igreja. Volume I.

I – História Eclesiástica
        O autor comenta da pouca importância da História Eclesiástica dentro do estudo da Faculdade de Teologia. O assunto deve ser revisto pois a revelação de Deus ao homem se torna um fato histórico. Como exemplo cita o povo judeu consciente de sua história desde o Egito, sabendo o que e quem são. A história para estes não é um fim e sim um meio que os levará a um fim. Esta memória continua através dos tempos, enquanto os judeus aguardam o messias nós aguardamos o seu retorno. Sem memória não há esperança e sem esperança a memória se esvai. A lembrança é algo essencial para os cristãos relembram por diversos rituais tendo em mente a memória cristã. Estudar a história da Igreja é reviver e viver o que Deus realizou e esta a realizar.

II – Império Romano na Época do Nascimento de Cristo
        O Império Romano dominava uma área que abrangia a maior parte do mundo conhecido na época sendo unificado na figura do Imperador que detinha o poder baseado nas legiões, além do Senado que não exercia poder. O Império era dividido em províncias: Imperiais, Senatoriais e Especiais estas com um cuidado por serem regiões com culturas próprias. Cada província tinha uma espécie de assembléia, chamada concilium, que participava da administração regional. O Império continha uma infinidade de povos, culturas, raças e a unificação da cultura era pretendida e exercida pela administração, pelo exército e comunicação entre as partes imperiais. A mistura através do comercio de escravos, a movimentação das legiões, o comércio transformaram várias cidades em centros culturais onde haviam pessoas de todas partes do mundo. A conclusão se dá no grande responsável pela unificação: o helenismo. A cultura trazido por Alexandre, a grega através da língua, costumes, utensílios, arte, literatura, filosofia e religião se espalharam por todo o Império. O mundo greco-romano foi influenciado pelos helenistas, judaísmo, a fé cristã e o culto a Mithras.

III – Situação Religiosa no Império Romano
       Haviam diversos cultos. As diversas culturas, a liberdade e a tolerância faziam com elas se espalhassem por todo Império. Os cultos que exigiam sacrifícios humanos ou orgias foram proibidos. Várias religiões desapareceram com o helenismo, surgindo os cultos de mistério e no Oriente o culto ao Imperador. No século 4º AC surgiram cultos egípcios e orientais com crença nas estrelas e contrapondo a magia. Vários cultos também surgiram trazidos por comerciantes, soldados e escravos. O culto ao deus Mithras, atraindo muitos homens, principalmente soldados e tendo sua data de nascimento transportado ao do nascimento de Cristo. O Culto ao Imperador, com raízes no Oriente. O livro de Daniel relata tal prática. O sincretismo religioso teve importância na mistura religiosa surgindo uma unidade de religiões com a qual a fé cristã teve de lutar. A salvação não era algo apenas cristão mas de várias religiões com um salvador, com ceia, batismos, renascimentos, nova vida, perdão entre outras práticas. Tudo isto contribuiu para a formação de uma fé monoteísta. A filosofia entre os mais cultos era o caminho a seguir.

IV – Palestina e Judaísmo Palestino
A Síria uma província das  mais exploradas e tendo a Judéia como parte. Residiam ali muitos judeus mesmo após a diáspora. Houve também a revolta dos Macabeus e a influência helenistica. Herodes se tornou o rei daquela região e vida religiosa dos judeus estava em partidos. Os zelotes lutavam pela libertação em relação a Roma, provável que muitos discípulos faziam parte deste partido. Os judeus podiam ser encontrados em diversas cidades do Império. Mantinham sua unidade em termos de cultura e religiosidade. Jerusalém era um centro político e religioso. Podiam manter em qualquer lugar que morassem  suas tradições e participavam da vida social e comercial do Império, alguns sendo cidadãos romanos.  A unidade fez do judaísmo um movimento missionário. Na cidade de Alexandria, no Egito o VT foi traduzido paro o grego formando a Septuaginta (LXX). Na época do nascimento começava a surgir o anti-semitismo, algo sempre presente em maior ou menor grau. Um dos motivos fosse os princípios de uma religião diferenciada.

V – Plenitude do Tempo
A plenitude do tempo é antes um ato de fé, sem explicação clara. Os escritos do Novo Testamento não são atos históricos mas de pregação, de confissão  e expressão de fé. Os textos bíblicos não podem se calar diante da pesquisa. Não podemos tratar de um Jesus “histórico” mas de um Jesus “terreno” da qual nasceu a igreja e os cristãos. A mensagem do Reino de Deus irrompeu com a vinda de Jesus, permanece. Não uma sabedoria mas um descobrimento, o da fé em Jesus a verdade de Deus. 

VI – Comunidade de Jerusalém
Jerusalém é a mãe do cristianismo por todos acontecimento que tiveram lugar nesta cidade. Citando características: movimento causado pela atividade missionária e a prática do batismo, permaneciam juntos, estabeleceram um nova forma de culto nos lares, encontra-se o líder da comunidade: Tiago, a mudança da adoração para o Domingo e outros dias de adoração e o recebimento de cristãos helenistas levando a ênfase missionária aos gentios.

VII – De Jerusalém a Roma
Paulo se tornou o missionário entre os gentios, sua formação muito contribui para o sucesso de seu trabalho, não sem enfrentar dificuldades com outros Apóstolos em relação a Lei e a fé na graça que liberta. Apresentou uma nova visão dos acontecimentos presentes e futuros em relação a salvação o que contribuiu para o crescimento da fé cristã.

VIII – Comunidades gentílico-cristãs, posteriores a Paulo
As comunidades podem ser entendidas através dos escritos do Novo Testamento, dos pais da igreja e dos evangelhos e dos atos apostólicos. Com o passar do entusiasmo a institucionalização foi perpetuada criando espaço aos clérigos criando a autoridade episcopal com Bispos, Presbíteros e Diáconos. O culto passa pela mesma transformação, estabelecendo costumes fixos. Estas mudanças alteram a fé e a doutrina baseadas nas cartas paulinas e no batismo neste momento os evangelhos foram redigidos e os apócrifos rejeitados. O centro era a fé em Cristo visto como o próprio Deus. A prática da penitência e a abstenção de alimentos foram estabelecidos como o cuidado social dentro da comunidade.  A maioria dos membros era de pobres, muitos escravos e o início da acepção de pessoas pelo que faziam. Só no início do século III começam a surgir locais exclusivos para culto.

IX – Heresia e catolicidade
            A jovem Igreja desde cedo começa a enfrentar os inimigos que surgem em forma de heresias, saídas do seu interior. A gnose foi criada originalmente por Zoroastro e com o passar do tempo foram tomando formas diferenciadas. A gnose cristã misturava o sincretismo, a fé e principalmente a sabedoria com elementos místicos. Seu maior representante foi Valentino na época do ano 170. Marcião, expulso da sua comunidade de origem negava a posição cristã em relação ao AT, criticava o Deus dos judeus e a sua justiça, criou uma coleção de escritos e defendeu as teses de dois deuses, Cristo não tinha um corpo. Neste confronto a Igreja estabeleceu sua primeira confissão de fé. O Montanismo (ano 156), através de Montanus se voltou contra a institucionalização da Igreja. Sua doutrina era voltada para glossolalia, para um fim de mundo próximo, que por seu intermédio falava o Espírito Santo dizia ser a expressão final do Pai, Filho e Espírito. Combatia a hierarquia e os sacramentos. Seu movimento era disciplinado e houve um grande crescimento, seu maior adepto foi Tertuliano. Cipriano, um dos criadores do primado de Pedro, inclui ai a sucessão apostólica através dos Bispos e que o episcopado monárquico era uma instituição de Jesus Cristo. Estes ensinos transformaram a igreja abrindo as portas para o papado.

X – Formação do cânone neotestamentário e a mulher na Igreja Antiga
A questão da mulher. Nos tempos antigos era considerada sem valor. Nos estudos dos escritos não se consegue admitir que as mesmas ocupem lugares de destaque. O autor faz diversas colocações pró e contra a presença ativa da mulher no período neotestamentário sem contudo chegar a uma conclusão, enquanto na tradição cristã antiga a mulher é vista como cristã tempo depois a mesma situação é considerada heresia e o autor conclui que a mesma heresia é a igualdade de todos os cristãos contrapondo o pensamento judaico. Jesus inclui e não fez exclusão de ninguém.

XI – Fé cristã e filosofia
O cristianismo teve se confrontar com as várias correntes filosóficas. O estoicismo com sua racionalidade, os platônicos, os sofistas. Uma maneira encontrada de combatê-los foi encontrada com Paulo utilizando uma concepção cristológica. Mais tarde alguns apologetas dialogaram com os filósofos não sem influências destes. Justino viu no Logos, um conceito grego a consumação em Jesus. Pensadores como Sêneca foi aceito por muitos cristãos por sua semelhança a fé cristã. O estoicismo encontrou aceitação no mundo cristão. Houve outros que combateram a fé como Celso que utilizando da razão questionava os cristãos. Clemente foi um dos expoentes. Orígenes abriu a primeira escola teológica e desenvolveu todo um estudo crítico dos textos sagrados, seus escritos eram dirigidos a uma elite de pensadores. Por fim a filosofia, o helenismo e a fé cristã se fundiram.  

XII – O Imperador e os cristãos
Os cristãos primitivos eram obedientes as autoridades, não obstante a lealdade era provada quando do culto ao Imperador, um costume oriental tendo Augusto como o maior expoente. Nero, com uma acusação infundada perseguiu e matou muitos cristãos depois de condená-los por terem incendiado grande parte de Roma. Com a sua morte e na s sucessões de Imperadores haviam aqueles que tratavam os cristão com tolerância e outros os perseguiam da mesma forma que havia liberdade para os cultos pagãos. O que estava em jogo era a fidelidade dos cristãos ao Estado. Quando da crise no Império os Imperadores tentavam restabelecer a adoração aos deuses e ao Imperador, tendo o deus Mithras o senhor do Império Romano. Após várias lutas pelo poder Constantino sobe ao trono e começa a dar a Igreja liberdade em troca de apoio mútuo em busca de interesses.

XIII – A Igreja Imperial
Constantino tornou-se o senhor da Igreja. Suas intenções eram políticas pois tendo a igreja sob seu controle o Império podia repousar em paz, a este processo chama-se cristandade. O culto ao deus Mithras tinha muito da característica cristã. A tradição cristã viu em várias narrativas uma conversão de Constantino que se tornara o dono da igreja e todos lhe deviam obediência. A primeira dificuldade do Imperador foi o levante dos Donatistas, eles não aceitavam a nomeação de Bispos que haviam fugido do martírio, o Imperador não conseguindo impor sua decisão e o movimento continuou existindo até o V século. Outra questão levantada era quem é Jesus Cristo, a questão levou a igreja a debates, os arianos tentando provar que Jesus fora criado por Deus, não tendo a mesma essência (ousia) e os ortodoxos dizendo que Jesus era o próprio Deus inclusive em essência. Para discutir o assunto foi realizado o primeiro Sínodo ou Concílio em Nicéia em 325, a questão avançou por muitos anos ora uma posição sendo vencedora ora outra. Com a morte de Constantino outros Imperadores vieram mas  no final do século IV a Cristandade estava estabelecida, debaixo da forte mão do estado.      

XIV – Doutrina e a vida da Igreja
Roma se tornou a maior comunidade cristã do Império apesar de ser colocada de lado em momentos importantes. Com a transferência da capital para Constantinopla a política se transferiu para o oriente. Na metade do século V Roma tenta uma reviravolta com uma lenda em que Constantino teria doado a Silvestre e a seus sucessores os Estados Papais. Com Dâmaso realizou-se um sínodo em que solicitou ao Imperador a supremacia em questões jurídicas, em questão de tempo os decretos papais tinham valor idênticos aos dos concílios daí surgindo os primeiros “papas” . Leão I foi o primeiro para de renome. No início do século V o Império Ocidental ia desmoronando. A velhas questão quem é Jesus volta a cena. O batismo era postergado até o último momento, crianças começaram a ser batizadas quando enfermas, os mártires eram venerados, adorados e seus objetos tinham poder de realizar milagres com a benção da Igreja, não demora muito até o culto aos santos e imagens. Os clérigos não eram exemplos a ser seguidos. Maria começa a ser venerada. Jerônimo traduziu a Septuaginta para o latim, conhecida como Vulgata. Surge a pessoa de Agostinho, trazendo sua conformação latina.   

XV – Qual é o rico que se salva ? Temática da riqueza e a pobreza na Igreja Antiga
O mundo dos primeiros cristãos era marcado por desníveis sociais e que a questão do direito a riqueza foi matéria de controvérsia entre os cristãos pois o nível social estava ligado a riqueza do indivíduo. O autor faz um exposição sobre os textos bíblicos de Mc 10.21-23, 26 e Mt 19.16-30 onde Jesus trata do assunto. Em 130-140 Hermas vem com uma interpretação de um sonho defendendo que ser cristão e ter riquezas são coisas irreconciliáveis, os escritos de Tito caminham na mesma direção. Tertuliano por sua vez faz um estudo sobre os textos acima e declara que a propriedade e a riqueza seguram a pessoa. Clemente no ano 200 defende que nenhum mal há nas propriedades e na riqueza desde que façamos bom uso delas sem maldade no coração que os ricos lembrem que do tesouro prometido no céu, o uso apropriado da riqueza está em servir ao próximo com amor como um serviço a Deus pois tudo pertence a Ele. Na metade do século IV os pais da igreja criticam o acúmulo de propriedades nas mãos dos ricos e em 370-397 Basílio defende que as propriedades sejam compartilhadas com os pobres e sem assim não o fizessem considerava roubo pois as mesmas pertenciam a Deus, e com isso ao pobres. Segundo ele se as riquezas fossem distribuídas não haveria pobreza. Gregório de Nazianzo compartilha da idéia de auxiliar os pobres com esmolas, mesmo ele não dividiu seus bens com os pobres. João Crisóstomo faz uma critica aos latifundiários que exploravam o ser humano e sua dignidade inquirindo sobre a origem da riqueza, Crisóstomo foi um líder religioso que quis eliminar a pobreza e não as causas. O fato é que a Igreja se contentou com as esmolas em trocas de bênçãos divinas.

XVI -  Final da história da Igreja Antiga
        O fim da Igreja antiga é marcada com o papado e a degeneração do estado Romano enquanto no oriente havia rivalidades entre os patriacardos de Alexandria e Constantinopla. O tema cristólogico permanecia, os de Alexandria defendiam que Maria dera a luz a um Deus, os que defendias eram monofisitas. O grupo de Antioquia defendia a dupla natureza de Jesus: a humana e a divina. Em 428 surge Nestório defendia que Maria era paridoura de Cristo trazendo contra ele a ira do clero, principalmente de Alexandria, este foi o motivo do Concílio de Éfeso no ano 431 quando Cirilo vence levando Nestório ao exílio e a morte. Alguns anos depois Eutiques afirma que o corpo de Cristo não era humano trazendo uma nova confusão culminando num Concílio em Éfeso no ano 449. Flaviano discordava da tese e obteve o apoio de Leão I a princípio contrário mas por questões políticas defendeu Flaviano. Os monges de Dióscoro vindo de Alexandria espancaram os concorrentes levando Flaviano a morte e a derrota de Leão I. Marciano, anulou as decisões de Éfeso e em 451 deu-se o 4º Concílio Imperial que restabeleceu a Flaviano tendo por base as encíclica de Leão I. Neste momento também foi reconhecido que o patriarca de Constantinopla tivesse a mesma autoridade do bispo de Roma, o que era inaceitável, o que viria a ser a cisão da Igreja latina e Oriental. Vários movimentos políticos se sucederam. O Império estava restrito a Itália. A cisão entre o ocidente e oriente aconteceu após o excomungar do patriarca de Constantinopla. As igrejas monofisitas permanecem até hoje.

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