quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ambiguidades do Manifesto Comunista






INTRODUÇÃO


         Ao final da segunda metade do século XIX é profundamente marcante para a filosofia. Um novo formato ideológico é inserido na Europa e alcança todos os continentes. Por essa época Marx e Engels redigem um panfleto político denominado “O Manifesto Comunista”. Uma verdadeira bomba relógio é lançada em meio a uma sociedade polarizada. Nessa sociedade coexistem duas forças: A burguesia; em franca decadência e o proletariado; que se insurge através de massas que se unem em favor de uma sociedade igualitária. Essa bomba explode deixando cicatrizes profundas na sociedade vigente.

         Esse é o motivo pelo qual procuramos desenvolver sucintamente o tema presente. Nós o dividimos de maneira objetiva, explanando em primeira instância a ideologia do “Manifesto”, em seguida, abordando os seus argumentos, que na prática não eram funcionais, mas, meramente teóricos. Por fim, buscamos coordenar, ou concatenar, os pontos satisfatórios e os frágeis, delegando à decadência humana o insucesso de todos os projetos por ela realizados. O resultado dessa análise pode ser examinado nas pautas seguintes.


A ARITMÉTICA DE MARX E ENGELS


         Reza o Manifesto do Partido Comunista elaborado por Marx e Engels, como base de argumentação central, a luta entre as classes sociais. Uma luta que perpassa as gerações; ora declarada, ora camuflada. É uma filosofia que podemos comparar com o dogma de Mani. Uma visão polarizada cujas as vidas humanas são pedras sobre um tabuleiro, previamente movimentadas por duas forças antagônicas: O bem e o mal. Com efeito, o materialismo histórico justifica o perfil histórico da humanidade em todos os tempos, o que leva a um rigoroso determinismo econômico. Por esse prisma de visão, o homem apesar de estar intrinsecamente ligado a história, é meramente um coadjuvante, ou seja, nos diferimos dos animas não pela razão, nem porque temos a capacidade de articulação sócio-política, e sim, porque somos produtores, entretanto, toda a realização – quer material ou intelectual - , é completamente condicionada. Seguindo esse raciocínio, entendemos a afirmação de Marx, de que os Homens são historicamente determinados, portanto, historicamente passivos.

         É verdade que o “Kerigma” da Filosofia apresentada por Marx e Engels não é assim tão simplório. Naturalmente que não é mera conjecturação, há fundamentos para que se chegasse a fórmula final.      

         A relação miséria – Burguesia – Proletariado seriam a tríade em que eles se apoiariam para justificar sua teoria. Basicamente, nesse período, os homens lutam individualmente buscando os seus próprios interesses. A luta pela estabilização pessoal, fruto do capitalismo é marcante e decisiva para determinação da filosofia contemporânea. Essa estrutura, na qual a sociedade da época estava alicerçada é com certeza o pano de fundo sobre o qual o socialismo científico de Marx ganharia força, e ao mesmo tempo seria combatida ferrenhamente pelos capitalistas que sempre alcançaram êxito nesse sistema de organização vigente.

         O manifesto comunista é, sobretudo uma crítica severa a esse formato político que alçou vôo com a revolução francesa. A problemática apresentada por Marx e Engels busca uma aproximação entre as realidades econômicas tão disparis da época e, que se avultavam na medida em que o processo de industrialização mudava de paradigmas. Nesse ínterim surgem os protestos da grande massa de operários. A greve e o sindicalismo ganham força. Marx não é um simples crítico que assiste aos acontecimentos do lado de fora, está embrenhado na luta dos trabalhadores. O seu envolvimento é tão profundo que o leva da investigação da razão da miséria a tratativa para a instituição de uma sociedade sem exploração. Instaura-se então a luta entre o capitalismo e o socialismo e, apesar de diferir dos outros modelos de socialismo não deixava de ser também utópico.


AS LINHAS TÊNUES DA FILOSOFIA COMUNISTA


         É sabido que toda a evolução do pensamento filosófico contemporâneo na obra de Engels e Marx trazem proposições benéficas ao homem. O desafio da criação de uma sociedade justa e sem a disparidade econômica, que é uma peculiaridade do capitalismo, trouxe a esperança de uma saída tangencial para a classe de proletários que empobrecia dia após dia. A influência dessa ideologia foi tão grande que muitos países a aderiram até mesmo quase um século após a sua criação. O sindicalismo brasileiro é fruto desse socialismo. As lutas pelo fim da desigualdade de classes se perpetuam e são grilos que ecoam desde os períodos mais antigos.

        Se por um lado esse movimento é promissor e nos faz sonhar com um mundo ideal, por outro lado, temos que confrontar a teoria com a prática, Aliás, prática, tem sido um solo escorregadio para todas as teorias elaboradas pelo homem. Devido a isso, gostaria de apresentar algumas dificuldades pela quais “o comunismo” não pôde sobreviver como “Política efetiva” e, apenas sobrevive como modelo ideal de sociedade.

         Primeiramente, podemos afirmar que hierarquia social é um mal necessário. Não é concludente, nem sensato, que alguém que passe a maior parte de sua vida debruçado sobre livros, esteja no mesmo patamar de outro que viu a vida se esvair pelos processos do entretenimento. Ademais, o podium é para vencedores. Apesar de defender o direito de propriedade privada, como sinal evidente do desempenho pessoal em detrimento à preguiça, o manifesto nos mostra claramente um pronunciamento de igualdade incondicional.


         Segunda coisa, é que o salário premia o esforço, sendo assim, uma sociedade que viva em total igualdade desestimula a busca pela complexidade ontológica nas mais diversas áreas do ser. A posição de Marx e Engels totalmente contrária à exploração do trabalhador, o que é louvável, fez que algumas nações posteriormente viessem a radicalizar completamente a questão do desnível salarial, deixando os profissionais abalizados e habilitados em total desconforto. Lembremo-nos que a teoria é puramente cognitiva e desconsidera a imprevisibilidade do ser passional.

         Por último, após o final da guerra fria, podemos notar claramente a situação catastrófica em que os países comunistas se encontravam. O modelo ideal tão ambicionado por nós brasileiros, ruía diante do hegemônico poder capitalista, e mais do que isto, podíamos observar a nudez de todas as nações que se trancaram para a evolução mundial. A polarização social, baseada em Marx e Engels, os legou a involução, degradação e miséria. Os dois lados do muro de Berlim nos mostram claramente ambos os mundos completamente distantes; o mundo capitalista das grandes possibilidades e o mundo socialista de uma única possibilidade. Resumindo, a prática é um grande verdugo.


CONCLUSÃO


         Se o iluminismo foi suplantado pelo Romantismo e o romantismo teve como algoz o contemporanismo, esse último momento filosófico foi vitimado pelo pós-modernismo. Temos na obra de Marx e Engels verdadeiras pérolas é verdade, entretanto, os movimentos são superados quotidianamente. Vemos basicamente três períodos distintos em cada um deles, a saber, a visão que traz a euforia; a ação que traz o conflito com a teoria e, por fim; as cinzas, que é o resultado da superação ideológica por um novo paradigma. O pensamento marxista continua influenciando setores da sociedade, mas já não é a mesma voz que soou com sonoridade ímpar até quase o final do século XX.

         O manifesto comunista permanece atual, vivemos sob a luta de classes, não nos moldes da burguesia e do proletariado, há algumas variantes, todavia, o cerne se mantém intacto. Patrão e operário continuam se gladiando, ainda que de maneira sutil; os movimentos de protesto contra a classe dominante ecoam nos quatro cantos do planeta terra. Isso é indiscutível. O que podemos discutir é se essa luta constitui na causa ou no efeito. É a febre ou a infecção? Continuo crendo que é a febre, pois a infecção se mantém intocável. Todo modelo de sociedade ideal tem o efeito da dipirona, ou seja, combate apenas à febre. Remedeia, porém, não cura. Tem ação imediata, mas, efêmera. Finalizando, o Homem é um ser decadente, e por isso mesmo, permanece impotente diante de seu continuo desafio de criar uma sociedade estável e ideal.

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