Introdução:
O Mal. O tema apesar de no primeiro momento parecer ser
algo desagradável, inspira cuidados e nos desafia a reflexão. Nesta monografia
tento estabelecer – a partir de uma reflexão própria – alguns conceitos sobre o
tema. A partir das indagações: “o que é o mal?”; “Qual sua origem?”; “Porque de
sua existência?”; “Quanto tempo ele durará?”. Procuraremos refletir e expor os
pensamentos. A tentativa em propor respostas, servirá para dar continuidade às
novas indagações e reflexões.
O que é o mal?
Como podemos definir a palavra, o significado e a expressão
maior deste que aflige direta ou indiretamente a todos? Para muitos, o mal
significa simplesmente o mal ou a ausência do bem – poderíamos perguntar o que
é o bem? – algo ruim, seja uma circunstância, um sentimento, um pensamento, uma
ação direta ou indireta. Presente em cada um. Cuja manifestação pode ocorrer a
qualquer momento. Ocasionada por uma provocação ou construída ao longo do tempo
e posta em prática de forma proposital. Às vezes sem querer, outras querendo,
nisto se encontra a precariedade humana: o mal está no homem. É algo intrínseco
ao ser, enquanto ser.
O mal seria apenas a ausência do bem ou é a inversão do
bem? O bem existiria se o mal não existisse? Então o mal só é mal porque há um
bem. Que bem é este? Na diversidade em compreender o bem, o mal também é uma
compreensão relativa, nunca um valor absoluto. Práticas, ações e pensamentos
dependem de quem os executa e o julgamento dos atos não são dependentes apenas
do executor, mas também de quem sofre a ação ou a julga. Nem todos terão o
mesmo julgamento, pois, os valores do ser são construídos mediante ações
exercidas no homem e principalmente na sua formação. Ações variadas, mas
contínuas. Transformando o bem no mal e o mal no bem são resultados da
ambigüidade humana. Então, pode-se dizer que o mal não é propriamente o mal,
pois depende de como podemos entendê-lo e enxergá-lo na ação realizada por
outro, seja próximo ou distante.
O mal deve ser visto no momento, avaliado pelo meio, pela
individualidade, pelo caráter. O mal é algo que se cria, se transforma e se pratica. Não pode
haver o mal ser não houver uma ação. A ação deve ser compreendida também como a
ausência ou mesmo a omissão, neste caso a omissão se torna um mal, dependendo do contexto em que ela se
encontra.
Voltemos à pergunta: o que é o mal? Não temos a resposta
definitiva. O mal é algo relativo à natureza humana, portanto não pode ser
claramente definida.
Qual a origem do mal?
Não há registros de datas em que o mal possa ter surgido.
Houve um dia em que o mal não existia? Seria o mal atemporal? Ou foi criada com
um propósito? Qual seria?
O mal só pode ser compreendido como mal porque se revela no
e através do homem. O mal entende-se a partir da existência humana. Quando o
homem pôde ser visto como homem ali se percebeu a presença inequívoca do mal.
Há uma presença do mal em cada homem. Sua influência pode ser mais ou menos
intensa, mas está de forma intrínseca no conteúdo humano. Em cada homem criado se
dá a manifestação do mal. Isto não está relacionado a sexo, cor, cultura,
condição física, ou em qualquer tipo de distinção humana. O mal está em todos e
todos vivenciam este mal.
Porque o mal existe?
Porque o homem existe. Na abordagem anterior vimos que a
origem do mal está relacionada na origem do homem. O mal tem necessidade de um
canal para se manifestar. O homem é o catalisador do mal. É através dos atos
humanos que o mal é percebido, vivido e presenciado. Sem o homem o mal cessa. A natureza não produz o mal. O
mal, como ação primeira, não se cria. O que se criam são suas manifestações. A forma em que o mal se faz
presente em suas ações.
Percebemos que o mal existe já na vida de uma pequena
criança. Através dos seus atos vemos as manifestações – egoísmo, a violência, e
em tantas outras formas – na busca de satisfazer suas vontades é capaz de
prejudicar seu semelhante sem necessitar que alguém lhe ensine como fazer isto.
É inerente.
Então para resolver o problema do mal seria necessário
eliminar o homem? Não. Antes o homem deveria ser transformado num novo homem.
Um homem diferente. Sem trazer consigo esta marca – a do mal – que o marca como
um semelhante em que não podemos confiar, pois suas manifestações estão
contaminadas pelo mal. Um homem que aprender a colocar o próximo como
prioridade acima da sua própria existência, e que sua vida, represente o bem
estar do próximo estará mais distante da influência do mal.
Esta ação deveria levar o homem a ajudar outros de sua
espécie, seus semelhantes. Na busca em fazer o bem de forma constante não
haveria espaço para manifestação do mal. A prioridade humana seria o bem estar
do semelhante e não seu próprio bem estar. O homem teria como conseqüência, um
bem estar maior, por que outros estariam trabalhando em ajudá-lo ao invés de
atrapalhá-lo, ou mesmo prejudicá-lo. Se isto é assim, porque então não agimos
desta maneira? Ora, por não haver uma transformação, sem a transformação do homem
o mal não só existe, como sempre existirá e influenciará. O meio que ele existe
e se manifesta continua presente. Vivo, deixa marcas presentes na vida da
humanidade levando o homem ao sofrimento, à dor, ao desespero, à fome, à exclusão,
em todos os lugares, fazendo deste mundo uma ausência da graça, da bondade e da satisfação
em ser útil para si mesmo e para com o semelhante, como se este simplesmente
não existisse.
O mal é eterno? Durará sempre?
A reposta a esta questão não é definitiva. Enquanto o homem
existir o mal existirá. Arriscaríamos dizer que o mal durará, o tempo que o
homem em seu atual estado durar. Isto pode ser medido na intensificação do mal
no presente. O mal de hoje não é tão mal como o de ontem. O mal faz parte do dia-a-dia
do homem. O maior problema é que estamos aprendendo a conviver com uma situação
caótica sem uma perspectiva de melhora. Quando vemos a manifestação do mal isto
não nos importa. Desde que não nos atinja.
Não paramos para pensar porque muitas pessoas estão nos
hospitais, ou em delegacias ou em necrotérios até que lá estejamos também. Por
está razão ele se intensifica. Portanto, o mal só deixará de existir se o homem
deixar de existir ou se o mesmo for transformado, o homem não pode se
transformar por si só, ele fracassa e fracassará nesta tentativa. O homem deve
e tem de depender de algo maior que ele mesmo. Se isto não ocorrer, à única saída
para a eliminação do mal é que o homem seja então recriado, isto é, que haja um
novo conceito do pensar humano.
Há algum bem no mal?
Pode algo antagônico estar tão próximo? O amor e o ódio
andam de mãos dadas?
Entendo ser possível que encontremos algum bem no mal. Se
isto acontecer então poderíamos pensar que o mal não é tão mal assim. Lembremos
que o mal é algo relativo: o fato de estar preso a uma época, a uma cultura, ou
a um momento, na compreensão do mal, ele é interpretado diferentemente. A
Segunda Guerra é um forte exemplo disto. O que era bom para alguns era mal para
outros.
A extração do bem no
mal segue o mesmo conceito. A dependência do fato em como o mal se relaciona
com o homem ou com aqueles que sofrem sua ação é determinante no possível bem
que o mesmo mal possa produzir. A experiência adquirida, as marcas forjadas, o
sofrimento causado, podem servir de alerta, para que tal ação – a do mal – não
se repita, do início a ação, ao que a sofreu. Estes serão prevenidos a não realizarem
a mesma ação pelo fato de terem aprendido daqueles, as terríveis conseqüências
dos atos causados. O resultado final será um bem. Um bem que se projeta em
direção ao homem, buscando um estado mais elevado que o anterior. Numa
tentativa de fazer melhor o caminho do outro, do semelhante. Esta dinâmica não
impede que o processo do mal volte ou se faça presente em outro momento, mas
nisto consiste a boa vontade do homem em tornar o seu mundo um pouco melhor.
Uma tentativa válida, porém, vã.
Conclusão:
A partir do exposto podemos dizer que o mal é um ato
presente e inerente à condição humana. Enquanto o homem existir como tal, o mal
permanecerá em atividade. A tentativa em melhorar o homem a partir de si mesmo
não resolverá a questão do mal. Somente uma mudança exterior no interior do
homem transformando-o num novo homem, recriado a partir de um novo contexto.
Realizado por uma existência mais elevada, isenta da presença do mal – que dá
origem à desgraça de muitos – em que nos encontramos, contaminados, pode nos
dar esperança de encontrarmos um novo mundo, encontrando um homem renovado que
destile um bem maior, tão intrínseco como o mal, infelizmente revelado hoje em
todas as partes.
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