quinta-feira, 8 de março de 2018

A emoção: o lado humano do ser


Estevão da silva barros


Introdução
“O homem é razão e emoção”
Amedeo Cencini

Nesta monografia tento abordar o tema da emoção. Há um valor científico do ser emocional? A emoção esta presente na teologia? Existe um relacionamento entre a psicologia e a teologia quando se tratar de entender a influência da emoção no cotidiano do homem? Num primeiro momento teremos a visão de como a psicologia trata o tema. No segundo, faremos um relacionamento entre o que diz a psicologia sobre determinadas expressões emocionais. Ao mesmo tempo, vemos como estas mesmas emoções se fazem presentes em personagens inseridos no mundo cristão, ou seja, no ser humano.
I - o emocional na psicologia.
I Definições:
As emoções são estados interiores que não podem ser observados ou medidos diretamente. São respostas de experiências que surgem de forma súbita. São incontroláveis, levam as pessoas a se sentir fora do controle por um tempo, não determinam o comportamento mas aumenta. Gera uma reação: ação, nas palavras ou pensamentos perturbados, irracionais ou desorganizados. Mudanças no fisiológico, subjetivo (sentimentos ou pensamentos) e comportamento.
Para Davidoff, as emoções (ou afeto), são estados interiores, caracterizados por pensamentos, sensações, reações fisiológicas e comportamento expressivo específico. Aparecem subitamente e parecem difíceis de controlar.[1]

Goleman menciona a seguinte definição:
“emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para agir. Há centenas de emoções, juntamente com suas combinações, variações, mutações e matizes. Na verdade, existem mais sutilezas de emoções do que as palavras que temos para defini-las.” [2]
            Goleman, ainda cita a definição contida no Oxford English Dictionary:
“qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento, paixão; qualquer estado mental veemente ou excitado”.[3]
II - Emoções Universais:
As emoções são uma universalidade encontrando as reações em qualquer lugar, onde esteja o ser humano. Expressada em seu rosto, como um marca programada em seus gens. Ao citar Ekman, Davidoff diz haver emoções seguintes em todos os homens: alegria, raiva, desagrado, medo, surpresa, interesse, vergonha, desprezo e culpa.[4] As básicas, seriam segundo Goleman, a fonte onde todas as demais emoções fluiriam: Ira, Tristeza, Medo, Prazer, Amor, Surpresa, Nojo e Vergonha. [5]
III – As Primeiras Emoções:
As emoções vão surgindo aos poucos na vida do homem: 3 meses encontra-se choro, alegria e medo; 3 a 4 meses a raiva, a surpresa e a tristeza; 6 a 8 meses a vergonha e a timidez e aos 2 anos o desprezo e a culpa. Desde crianças são capazes de discernir as expressões.
IV - Natureza das emoções: [6]
São feitas de componentes subjetivos, comportamentais e fisiológicos.
4.1. Componentes subjetivos: sentimentos e pensamentos. Ao citar Harold Schlosbergm, Davidoff cita as três dimensões uma escala: a) do agradável a desagradável. A alegria é agradável; o medo, a raiva e o que desagrada não o são. b) da atenção que atrai a rejeição do que desagrada ou entristece e c) do intenso ao neutro a emoção pode ser branda ou intensa a alegria ao contentamento.
4.2. Componentes comportamentais: a) Expressões faciais: as expressões faciais são um meio de codificar expressões pela reação provocada pro suas emoções. Por pequenas alterações no rosto é possível identificar o estado emocional do ser. A capacidade de experenciar a dor do outro fornece a base da empatia. b) Gestões e ações: As emoções refletem nos gestos e ações do indivíduo: numa criança a raiva a faz pular ou atirar algum objeto; a tristeza por um olhar distante, um juntar de mãos. Diversas respostas não são apenas geneticamente adquiridas, mas também aprendidas ao longo da vida, por observação e imitação. Tanto adultos e crianças aprendem a disfarçar seus sentimentos. Por exemplo sorrir quando se está com raiva ou deprimido.
4.3. Componentes fisiológicos: as alterações fisiológicas sofrem influência das emoções: tremer, corar, empalidecer, suar, sentir tontura, são alguns exemplos. Surge então as perguntas: a) as reações fisiológicas a emoções são similares? Davidoff cita Cannon ao dizer que as que se refere à dor e ao medo são as mesmas. Por outro lado, Davidoff cita Ekman, que percebeu num experimento que diversas alterações ocorrem quando se sente medo, assim pode-se afirmar que existem vários padrões fisiológicos para diferentes emoções. b) as reações fisiológicas às mesmas emoções são uniformes? Não, cada indivíduo tem sua própria alteração, independendo do outro.
4.4. Componentes entrelaçados e interativos: pensamentos, sentimentos, expressões faciais, atos e fisiologia estão exercendo influência entre si. Davidoff cita Ellis, onde menciona que os pensamentos alteram os sentimentos. Por exemplo, você está sozinho à noite e pode transformar em um estado aflito imaginando ouvir passos ou sussurros de ladrões armados. a) emoções mistas: as pessoas sabem que suas emoções são mistas, se contrapondo, amar e odiar a mesma pessoa. Folkman & Lazarus, Schwartz, cita Davidoff, afirmam que isto é uma regra. As emoções estão ligadas a motivos, onde Davidoff cita os autores Buechler & Izard e Tomkins, e são um caminho de via dupla. Quando uma pessoa está com fome ela sente raiva ou tristeza ou ansiedade, mas após comer ela se sente feliz. Quando alguém está com raiva vem o desejo de ferir ou destruir. b) emoções volúveis: as emoções estão em constantes mudanças, principalmente a de afeto ou humores brandos passando de uma fase a outra conforme o desenvolver da situação.
V - Como Surgem as emoções:
Dirigindo distraído e bate no carro da frente, fica-se apavorado. Como surgiu a ansiedade?
5.1. Teoria resposta periférica: são eventos que despertam respostas periféricas (sistema nervoso periférico, responsável pelos reflexos e pelas reações fisiológicas). Você relaciona a resposta a um determinado componente emotivo, como a ansiedade. Ao observar as expressões faciais, que são variadas e específicas, as pessoas distinguem uma emoção de outra e compreendem o que está sendo experimentado.
5.2. Teorias do Incitamento Inespecífico: 1) eventos incitantes despertam sentimentos, comportamento expressivo e reações fisiológicas. 2) as reações fisiológicas não correspondem a emoções específicas. 3) as emoções são aprendidas em elementos como intensidade, outras experiências e sentimentos de aproximação e esquiva a uma situação. Elas presumem que as pessoas avaliam, em algum nível o que lhes está acontecendo e que esta avaliação gera uma emoção. A avaliação não é necessariamente racional, deliberada ou consciente segundo citação de Davidoff faz dos autores: Campos & Stemberg, Lazarus & Folkman e Mandler. Para que experimente uma emoção, o indivíduo precisa atribuir o incitamento físico à situação. A exata emoção sentida depende da maneira pela qual a pessoa aprendeu a classificar a situação conforme citação que Davidoff faz de Schacter e Singer, como também acham que os indivíduos notam um incitamento fisiológico e sentem-se motivados a procurar um rótulo emocional que possa responder por esse estado.
5.3. Uma síntese: as evidências não favorecem um único modelo de emoção. Aspectos de cada teoria encontra suporte, porém não encerra o assunto e as divergências nas suas variadas compreensões permanecem. 
II - emoções específicas e o comportamento do cristão
Cencini relata que não existe decisão tomada a frio ou apenas com a razão mas, há um feito de razão e emoção.[7] Assim podemos entender que a emoção está presente em todos os atos do homem, sendo ele um cristão ou não. Para Cencini, a emoção não leva necessariamente a uma ação, antes a uma série de julgamentos ou avaliações que determinam o comportamento mediante determinadas situações tendendo a repetir estas ações em outros momentos de sua vida.
A raiva é definida como emoção de fortes sentimentos de contrariedade, acionadas por ofensas reais ou imaginárias. Agressão é qualquer ato praticado com o fim de ferir ou prejudicar uma vítima involuntária.[8] Existem exemplos bíblicos de homens que tomaram esta posição: Saul em relação a Davi, quando procurava matá-lo.[9] Pedro, o apostolo, também manifestou esta emoção quando cortou a orelha do servo do sumo sacerdote.[10]
Prazer, alegria e felicidade são experiências emocionais positivas abrangem aquelas relativamente curtas, como alegria e prazer, e aquelas mais plenas e duradoura, como felicidade e serenidade.[11] Presentes nas nossas necessidades biologias. Um exemplo inserido na comunidade cristã é a do Santo Agostinho. Agostinho não só fala de determinadas emoções como a vivência em diversos momentos de sua vida. Ele diz num momento que não se pode ser feliz sem possuir o que se deseja assim como também não o pode aquele que tudo tem.[12] Creio que Agostinho tenha trabalhado este pensamento transportando esta emoção num comtexto teológico quando mais adiante no texto ele menciona que o condicionamento da felicidade, como estado permanente é destinado àqueles que possuem a Deus.[13] Jó relata a perda da felicidade mediante as circunstâncias do momento, apesar da afirmação de Agostinho.[14] O prazer e a alegria esta presente na vida daqueles que ouvindo a palavra a recebem.[15] Zaqueu, foi um exemplo deste momento.[16]
Ansiedade é uma emoção caracterizada por sentimentos de antecipação de perigo, tensão e sofrimento e por tendências de esquiva ou fuga; a pessoa pode se sentir ansiosa sem saber exatamente por quê.[17] O apostolo Pedro apercebido desta emoção humana desafia o homem a lançar sobre Ele, Jesus toda a ansiedade a fim de livrá-lo desta situação.[18] O medo poderia ser definido da mesma forma mas o que define corretamente é que o objeto do medo é facilmente identificado.[19] O estresse se refere a condições que despertam a ansiedade ou o medo despertados segundo Fleming, citado por Davidoff.[20] Um exemplo claro destas emoções acumuladas e centradas num indivíduo é o profeta Elias, a ansiedade, o medo, o estresse geram um caso de tipico de depressão.[21]
Certamente poderíamos relatar outros casos cuja emoção floresceu em indivíduos, como a tristeza e o sofrimento causado em Santo Agostinho pela perda de seu amigo.[22] As emoções tão marcantes na vida de Moisés, a ira em matar um homem, o medo em fugir, a depressão em buscar morte, assim como Elias e Jonas.[23] Jesus no Monte das Oliveiras e seu estado de profundo temor e aflição.[24] Pedro com seus atos inconseqüentes movidos pelas emoções.[25] Nossos pais agiram cheios de emoção, nós agimos hoje e outros agirão amanhã.
A emoção faz parte da diversidade de Deus. Não somos idênticos. Cada ser tem o seu modo de pensar e agir. Na individualidade de cada um acha-se o complemento das necessidades do próximo, seremos úteis e nos completaremos mutuamente, cada um sendo o que é.
Conclusão
Em primeiro momento entendo que o estudo da emoção não se finaliza. A psicologia e a teologia têm neste tema, perguntas, sem respostas esclarecedoras. Com várias vertentes é impossível definir algo tão íntimo. O que motiva? O que gera? porque cada pessoa reage de uma forma, não se responde facilmente.
Segundo, a emoção está presente na teologia porque ela é formada por pessoas sujeitas a emoção. A Bíblia, as produções, os tratados estão repletos de emoção. Cada autor coloca seus sentimentos na palavra escrita a nós só cabe pesquisá-las, descobri-las e vive-las. O desafio em compreender a emoção no campo teológico é muito importante. Como lidar com o ser, sem entende-lo? Se a teologia é uma ciência que busca respostas, ela deve ir ao encontro delas, busca-las, entende-las e proclamá-las; é um desafio para os teólogos. Se numa extremidade está Deus na outra está o homem e um forte anseio interior que precisa ser respondido e correspondido.
Finalmente, há um relacionamento na busca de se entender a emoção no ser humano, porém cada ciência busca em seu campo esclarecer e defender seus achados.  
Bibliografia
1. Livros
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Local: São Paulo: Ed. Paulinas, 1984.
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e Vida Feliz. Local: São Paulo: Ed Paulus, 1998.
BÍBLIA SAGRADA.
CENCINI, Amedeo & MANENTI, Alessandro. Psicologia e Formação: Estruturas e Dinamismos. Trad. Frank Roy Cintra Ferreira & Mariana Gastaldi. 2a ed. Local: São Paulo: Paulinas. p. 54-70.
DAVIDOFF, Linda F. Introdução à Psicologia. Trad. Lenke Perez. 3a ed. Local: São Paulo: Ed. Makron Books, 2001. p. 367-413.
DAVIDOFF, Linda F. Introdução à Psicologia. Trad. Auriphebo Berrance Simões e Maria da Graça Lustosa Local: São Paulo: Ed. McGraw-Hill do Brasil, 1983. p. 426-470.
GOLEMAN, Daniel Inteligência Emocional. Trad. Marcos Santarrita Local: Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 1995. p. 303-304.


[1] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 369.
[2] GOLEMAN Daniel Inteligência Emocional, p. 303.
[3] GOLEMAN Daniel Inteligência Emocional, p. 304.
[4] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 369.
[5] GOLEMAN Daniel Inteligência Emocional, p. 304
[6] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 371.
[7] CENCINI, Amedeo Psicologia e Formação, p. 54.
[8] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 378.
[9] Cf. I Sm 19:10,11.
[10] Cf. Lc 22:50.
[11] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 386.
[12] AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e Vida Feliz., p. 129.
[13] AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e Vida Feliz., p. 131.
[14] Cf. Jó 30:15.
[15] Cf. Mc 4:16.
[16] Cf. Lc 19:6.
[17] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 390.
[18] Cf. I Pe 5:17.
[19] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 390.
[20] DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia, p. 390.
[21] Cf. I Rs 19:9-14.
[22] AGOSTINHO, Santo. Confissões, pp. 85-89.
[23] Cf. Nm 11:15; I Rs 19:4; Jn 4:8,9.
[24] Cf. Mc 14:32-42.
[25] Cf. Jo 21:7.

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