Capítulo 1 – Práxis e Reino – Explique o
Reino de Deus como “cara a cara” absoluto e sua tensão com a história.
Partindo de definições prévias de
amor, práxis e comunhão, Enrique Dussel defende o reino de Deus como o “cara a
cara” absoluto, ou seja, o lugar no espaço e no tempo onde as relações práticas
que possibilitam o ser humano tornar-se pessoa frente a outro ser humano e
agindo ou interagindo em relação a ele. O Reino de Deus é a realização plena
deste projeto. Sua tensão com a história se dá na medida que este projeto, o
Reino, se dá início na comunidade. É esta situação paradigmática que pode ser
notada no livro de Atos. Lá percebe-se esta unidade interpessoal de respeito,
justiça, gozo, amor mútuo e amizade. “São sinais do milagre de ser comuidade”.
Eles buscavam o Reino de Deus e a sua justiça (Mateus 6.33). Mas, o Reino de
Deus mantém, em si mesmo, a tensão do “ainda não”. Ele não depende totalmente
de realização humana. Ainda há algo que fica por fazer. É o caráter utópico do
projeto de Deus. É uma meta histórica futura, ou na linguagem bíblica, o
aspecto escatológico.
Capítulo 2 – Maldade e Morte – O que seria
a terceira morte falada por Dussel?
Todo o ser humano conhece a morte
física da qual ninguém pode escapar. Há uma segunda morte, trata-se da morte
espiritual como fruto da opção pelo pecado (Romanos 5.12). Entretanto Dussel
fala de um terceiro tipo de morte. É a morte causada por quem tira o sustento e
não paga o “pão” ou o justo salário, desta forma derramando sangue (Eclesiastes
34.22). Sistemicamente, o dominador tira o produto do trabalho de seu próximo e
com isso o mata, tirando-lhe a vida. Ao mesmo tempo, este pecador é condenado à
morte eterna por seu pecado, pois vive sua vida através da morte e espoliação
de seu próximo. Para que esta cadeia seja quebrada é necessário que o ser humano
tenha consciência de seu lugar de atuação e papel na sociedade em que nasce.
Ele deve ter consciência das estruturas institucionais produtoras de
comportamento e ideologias. Não há como fugir a esta responsabilidade. Conscientemente
se conhece, se goza e se afirma no poder. Da mesma forma, conscientemente se
conhece a humilhação e a debilidade. Desta forma, dia a dia se assume um papel
de mudança ou manutenção desta sociedade.
Capítulo 3 – Moral social vigente: O
“princípio Babilônia” – Relacione moral e ética.
Moral (Ethos com “E” maiúsculo) é
o conjunto de regras que procuram perpetuar um projeto histórico qualquer. Tudo
o que afirma este determinado projeto é moral ao passo que tudo o que se lhe
opõe é imoral (contra este projeto). Por isso
moral é relativa e nem sempre é boa ou positiva, pois tudo dependerá a
que projeto ela se refere e busca perpetuar. Ética (ethos com “e” minúsculo)
refere-se, no original grego, à casa ou moradia das pessoas. Com o passar do
tempo esta palavra passou a ser empregada no sentido mais amplo visando à
possibilidade de convivência justa e pacífica entre todos os seres humanos. Daí
entende-se que o Reino de Deus é o projeto ético que visa a justiça e a paz a
todos indistintamente. Enquanto a moral pode ser plural, pois várias ordens
vigentes existem, e já existiram ao decorrer da história, a ética é singular, pois
o ideal é um só, a boa convivência entre os seres humanos. Nem tudo o que é
moral é ético e, ao mesmo tempo, nem tudo que é imoral é antiético. Isso é
notado no exemplo de Jesus. Ele foi entregue aos romanos como um malfeitor e
alguém contrário à ordem vigente. Ele não seguiu a moral vigente.
Capítulo 4 – Bondade e Vida – Como se
herda o bem na comunidade?
O mal está há muito tempo
presente e inserida na realidade dos seres humanos. A possibilidade do mal ser
percebida é muito grande. O mal está tão presente que podemos afirmar que é uma
manifestação inerente nas relações sociais e humanas. Podemos percebê-la todos
os dias. Em todos os lugares, nas mais diversas formas de manifestação. A
comunidade se contrapõe ao sistema do mal, quando sua práxis se origina da
Palavra e da presença de Deus na forma viver e lidar com seu próximo. O bem
também está presente onde o ser humano está através da conexão com Deus.
Deus com e no meio de seu povo e
o povo com e junto com Deus é capaz de estabelecer uma nova relação de
confiança e de despertamento para a vida através de uma aliança comum na defesa
da vida e da dignidade humana. Os crentes vivem com sua confiança nas promessas
e nos ensinos dados por Deus. O ser humano sem a presença de Deus tenderá
sempre para o mal. Por esta razão a comunidade deve basear sua força de ser,
agir e viver em conformidade aos princípios e a práxis de Deus em relação com
seu povo. Agentes multiplicadores da graça e do amor de Deus.
Capítulo 5 – Ética Comunitária: o
“Princípio Jerusalém” – Como se distingue a moral da ética?
O pobre é vitima de uma fabricada
pobreza. Pobreza causada pelo mal, pelo pecado, pela opressão e ganância dos
mais fortes, daqueles – que sendo a minoria da população - exploram os muitos,
oprimindo-os violentamente, nem sempre fisicamente, mas na dignidade, na fome,
no frio uma forte exclusão social. Este pobre quando vê no outro, um igual, ser
humano digno de respeito, sujeito como ele digno de viver plenamente a vida,
possuidor dos mesmos direitos. Este pobre que se liberta da ordem moral,
tornar-se livre e participante do reino de Deus. Contrário daquele que sem
consciência da opressão se deixa dominar pela moral impostora, elaborada a
serviço da opressão e da dominação dos ricos. A evangelização tem um papel
fundamental, anunciadora de libertação levando-os a serem benditos aos olhos de
Deus. Não que isto seja uma obrigatoriedade, mas é um meio em auxiliar o outro
com a Palavra de Deus a tomar consciência de uma situação e continuar uma busca
de libertar o outro, tão necessitado quanto aquele.
Capítulo 6 – Sensibilidade, Justiça e
Sacramentalidade – Explicar a relação entre sacramentalidade e sensibilidade.
Dussel coloca a sensibilidade como
à capacidade do conhecimento como meio de obter o significado do ser, em sentir
a necessidade e expressões do ser humano diante do desafio da fome, do frio e
de outros sentimentos que traduzem a satisfação diante de situações de contentamento.
Dussel coloca que esta sensibilidade é capaz de projetar sobre o ser humano uma
consciência de atos exteriores. A partir dela é capaz de se proteger diante dos
exteriores. Já a sacramentalidade, visto como um sinal da graça demonstra através
da materialidade seu significado. A materialidade
da sacramentalidade conecta e nos desafia despertar nossa sensibilidade diante
dos atos de graça e misericórdia. Capazes de nos tocar, em nossos íntimos. A
sacramentalidade une, junta um ao outro, quebra o paradigma de uma religiosidade
individual e os envia a viver todas as relações humanas, físicas e espiritual
no afã de uma justiça baseada na ética cristã.
Na concepção paulina, o regime da Lei
(moral) está ligado à ordem do pecado e da morte, enquanto que a fé está
relacionada ao espírito novo e a ordem da vida. Para ele, a lei não é capaz de
conduzir à vida, ao contrário disso, ela gera um perpétuo estado de desespero
no ser humano. A lei não é capaz de absolver, mas sim, tem caráter absolutamente
condenatório. Por isso a lei não pode justificar, senão somente tornar a humanidade
ré. Num ambiente em que se semeia a lei, tão somente, propicia medo e desesperança.
Não que a lei não seja boa ou necessária, porém quando despojada de outros elementos
– como a fé aqui em questão – só encaminha para a morte. Já a fé traz o espírito
da vida. Em outras palavras, a fé viabiliza a esperança e a libertação. Ela
atua como agente de absolvição, por isso mesmo produz sentimento de liberdade
diante dos imperativos da lei. Em suma, a lei pertence à ordem moral. Portanto,
oriunda da carne. Entretanto, a fé é inerente a ordem ética e nos envia ao
reino de Deus.
Capítulo 8 – Relações de produtores e
práxis do povo – Como distinguir a práxis de libertação do povo de outras
práxis do povo?
Primeiramente precisamos observar
que a práxis de libertação do povo não tem o seu ponto de partida no próprio
povo. Não surge, por assim dizer de indivíduos, nem de elites, nem de
intelectuais, mas sai do lombo de uma geração de profetas e, sobretudo de uma
multidão de vidas que vive sob o domínio de outras tantas. Nasce, portanto da
teologia popular. Em seguida, a grande marca que essa práxis possui é da luta
contra as estruturas de pecado estabelecidas. Não se trata, por conseguinte, de
uma filosofia ou ideologia que gera entusiasmo, como vários modelos de práxis
do povo e, que não resultam em atitudes mas ficam tão somente na esfera do
discurso. Ao contrário disso, a práxis de libertação encaminha do protesto para
a atitude. Com isso, automaticamente chegamos ao terceiro diferencial. Ou seja,
há um rompimento com os modelos pré-estabelecidos que são geradores de opressão
aos mais frágeis, principalmente do primeiro para o terceiro mundo. Enfim, a
práxis de libertação do povo têm origem no povo, se desenvolve com o povo e,
por fim gera a autonomia do povo dentro de uma nova ordem histórica.
Primeiramente, precisamos
mencionar que é perfeitamente possível se estabelecer uma ligação entre o herói
e o profeta, muito embora existam distinções claras entre um e outro. Na
realidade é imprescindível dizer que para fazer uma ponte entre profeta e herói,
antes de mais nada, é necessário saber a condição em que se encontram ambos. Para
ser mais claro, determinar se o Estado é ou, não, laico pode ser profundamente
preponderante nessa questão. Isso porque num território em que “Religião e
Estado” são inseparáveis, o profeta – como na história de Israel – que denuncia
o rei em favor do órfão e da viúva por vezes se torna herói, outras vezes um
mártir. Mas nesse caso, o campo de atuação se entrelaça. Já na nossa realidade
brasileira, por exemplo, temos mais facilidade em relacionar o profeta ao
herói, uma vez que o Estado aqui é laico. Por esse motivo, a trilha percorrida
por ambos, são tangenciais. Ou seja, tanto o profeta quanto o herói levantam
suas vozes para libertar vidas. Organizam-se para essa tarefa e acabam por cooptar
outras pessoas que trabalharão com ele até que os objetivos sejam efetuados.
Resumindo, o profeta e o herói possuem pontos de convergência claros na luta
pela libertação dos subjugados. Talvez seja essa a ponte entre ambos.
Capítulo 10 – Morais relativas e ética
absoluta – O que significa a transcendentalidade crítica da ética?
Significa em primeiro lugar que
há uma clara distinção do papel da ética e da moral. A moral é relativa e necessária
para a construção das relações sociais. Não é possível existência de ética sem
a moral que a “coloque em prática”. Entretanto a moral pode ser absolutizada
por grupos dominantes transformando-a em ética e sistemas absolutos para o ser
humano. A ética, por sua vez, tem um valor absoluto e transcendental. Ela não pode
ser relativizada, pois isso seria um perigo à existência humano e ao projeto
maior de Deus para a humanidade. Ela é transcendental porque ultrapassa os
limites do tempo e do especo sendo útil e viável a todos os grupos e
comunidades humanas (diferentemente da moral). Por isso a ética assume um papel
crítico (como um policial) junto à moral criticando-a e questionando-a todo o
tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, importante saber sua impressão sobre os textos, com issto podemos dialogar.