Estevão da Silva Barros
As
teorias de currículo ao longo do século XX e início do século XXI.
Texto:
Currículo: das teorias do currículo ao currículo na escola; PAULA, D. H. L.;
PAULA, R. M. Capítulo 1 Páginas 14 – 35.
O termo recebeu
diferentes conceituações, entendimentos e funcionalidades ao longo da história,
sendo transformado conforme as pressões sociais da época. Isto demonstra a
transitoriedade que o termo abarca em um determinado período, tornando-se algo
extremamente dinâmico e discutível.
Desta forma dizer o que é um verdadeiro currículo é incorreto, mas sim,
entender se o mesmo pode ser útil, o quanto útil aquele momento a quem mais
interessa.
I – Visão do contexto internacional
As primeiras
pesquisas especializadas sobre o tema datam de 1920 nos Estados Unidos, num
contexto de massificação do ensino em prol a industrialização. Neste caso,
percebe-se que esta força provoca mudanças naquela, a fim de suprir as
necessidades sociais.
As teorias
desta época se dividem em:
1.
Tradicionais:
a.
Bobit (1918) propôs que a organização e a
funcionalidade da escola fossem iguais aos de uma empresa, ideia que se
destacou e dominou os Estados Unidos no século início e meados do século XX.
Seu pensamento se consolidou com a publicação de seu modelo em 1949, chegando a
influenciar outros países nos quarenta anos seguintes, onde o currículo deveria
ser tratado como uma questão técnica, burocrática e administrativa a fim e
assegurar a formação de indivíduos;
b.
Já John Dewey propunha que as experiências
vividas pelos alunos fossem consideradas na construção do currículo com
princípios democráticos, participativos. Pensamento este não se destacou.
2.
Críticas:
a.
Em 1960 se dá pressão por mudanças percebidas
nos debates, protestos e reivindicações, visando melhores condições e garantia
de direitos do povo, questionando a teoria tradicional. No caso do Brasil,
vivendo o período da ditadura militar encontra eco nas falas de Paulo Freire;
b.
As teorias críticas contrapõem a tradição, pois
levam em relevância a transformação social. O currículo, portanto, não pode ser
visto de forma técnica para atender as demandas de uma sociedade capitalista,
uma imposição de poucos sobre muitos, para atender seus próprios interesses.
Este modelo não interessava a população, reforçando a submissão da massa ao
sistema de mercado;
c.
O texto nos apresenta três visões críticas:
i.
Teorizações críticas mais gerais: influência da
sociologia e da filosofia, onde o currículo presente é percebido como
instrumento capaz de reproduzir
valores, hábitos, crenças e
conhecimentos da classe dominante, como meio de reprodução e manutenção do discurso, que dá manutenção ao sistema dominante, mas
não apresentam uma proposta de mudança;
ii.
Teorizações centradas em questões curriculares:
baseia-se do advento da nova sociologia da educação e movimento da
reconceptualização;
iii.
Teorizações críticas gerais a educação:
influenciam as discussões sobre o currículo que pode ser revisto e utilizado
como meio de emancipação do indivíduo e libertação dos sujeitos sob dominação
por meio de uma educação escolar que considerem, não só as classes dominantes,
mas também as culturas dominadas, penso, levando-os a tornarem-se conscientes
em seu papel na sociedade, num processo de libertação.
Estas
contribuições transformam o currículo que considera o conhecimento e
experiências diretamente ligadas a situação vivencial que objetiva a formação
integral do ser, tornando-o autônomo, crítico e criativo na realidade de sua práxis. O currículo deve levar em
consideração a realidade do sujeito.
Ainda neste contexto de reestruturação alguns denominam de currículo
oculto que buscam mudar as práticas básicas em sala de aula e ver novas visões
de temas.
3.
Pós-críticas:
a.
As teorias pós-criticas concordam com as teorias
críticas, mas se diferem fundamenta-se nas formas textuais e discursivas e não
no plano econômico político;
b.
Elevam as discussões para o âmbito de
denominação baseado em raças e em questões de gênero;
c.
Pode-se considerar que esta visão complementa as
teorias críticas ampliando o cosmo que contém diversos outros sujeitos com outro
olhar.
II – Visão do contexto Brasil
Entre 1920 e
1930 se dão as discussões sistematizadas do currículo no Brasil em meio a urbanização
e industrialização fomentado pelo movimento Escola Nova que, apesar de não oferecer uma proposta, enfatiza uma
metodologia de ensino oferecendo diretrizes para organização curricular. Este
movimento defendia a educação como instrumento para a construção de uma
sociedade democrática, respeitando as diversidades e a realidade dos
estudantes. O resultado deste pensamento é o desenvolvimento do currículo
focado nas necessidades e os estágios de desenvolvimento das crianças.
Outro fator que
contribuiu para a desenvolvimento do currículo no Brasil foi a criação do Inep
– Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais, em 1938. Em 1951 a
disciplina Currículos e Programas foram incluídas no curso de Pedagogia,
tornando-o objeto de ensino e pesquisa. Na década de 1960 as ideias das teorias
tradicionais são adotadas no Brasil. A partir da década de 1980 inicia-se as
influências das teorias críticas, de igual forma, as contribuições das teorias
educacionais progressistas contribuíram o campo do currículo brasileiro cuja
consolidação se deu na década de 1990.
A partir da
década de 1990 outras teorias surgem como:
a.
Currículo construtivista baseado nas ideias de
Jean Piaget que enfatiza o papel do sujeito no processo de aprendizagem, sendo
que o cognitivo do ser da forma do processo de aprendizado;
b.
O currículo sóciocrítico ou históricocultural
defende a necessidade da interação social entre os sujeitos e o papel
meditativo do professor no processo na leitura contextualizada da sociedade e
nas soluções dos problemas de forma crítica, participativa e autônoma;
c.
O currículo integrado ou globalizado
fundamenta-se em duas ideias: integração dos conhecimentos às experiências com
a intenção de compreender de forma reflexiva e crítica a realidade e
desenvolver conteúdos culturais e conhecimentos científicos baseado em método
de projetos;
d.
Currículo como produção social ou cultural,
influenciado pela sociologia crítica, traz a ideia de que o currículo não se
reduz a disciplinas e seus conteúdos, mas em terreno de luta e contestação cujo
fim é uma nova construção cultural.
Apesar de
perceber as influências estrangeiras no Brasil, percebe-se uma releitura a
partir da realidade nacional, considerando nossas tradições. Deve-se entender
que as teorias não se deram de forma linear, mas se somando, misturando,
coexistindo e deixando de existir para uma dar lugar a outra. Segundo alguns autores, as tendências
pedagógicas se organizam em:
a.
Teorias não críticas na educação entendem a
educação como autônoma e instrumento de equalização social, desconsiderando a
história, o social, a economia e a cultura. De tendência Tradicional, Escola
Nova e Tecnicista. Ao mesmo tempo que ignora a realidade, seu instrumento a
estrutura e a mantém inalterada, mantendo os princípios da sociedade
capitalista:
i.
Tendência Tradicional: se dá entre os períodos
dos jesuítas até o ano 1930, repete os conhecimentos históricos, formação moral
e intelectual conforme a exigência da sociedade, ignora a prática social, os
interesses dos estudantes e é rigidamente obedecido pelos professores, este o
centro do processo e detentor do poder absoluto do ensino;
ii.
Escola Nova foi implementada entre os anos de
1932 e 1960. Ajustar adaptar e formar estudantes aos valores e normas da
sociedade. Não existe um currículo sistematizado, já que o mesmo era flutuante
a ponto de atender os interesses e as necessidades imediatas dos estudantes. O
professor é visto como facilitador de um processo de aprendizado e o estudante
se torna o centro de forma ativa e participativa;
iii.
A Tecnicista surge em meados de 1950 e seu auge
chega a 1970, com o papel de formar mão de obra eficiente e produtiva para
responder os anseios do sistema de produção. O ensino foca o científico
desvinculado da realidade social. Procedimentos e técnicas específicas garantem
o resultado e o professor assume um papel técnico e o estudante seu papel de
submissão.
b.
Teorias críticos-reprodutivistas defende a
crítica em que a educação só pode ser construída considerando as questões
sociais, históricas, econômicas e culturais. Já a denominação reprodutivista
tem a ideia de reproduzir o modelo da sociedade vingente, como reprodutora do
discurso. Há críticas ao regime autoritário e à pedagogia tecnicista. Estas
teorias foram mais conhecidas por apresentarem reflexões que abordam:
i.
Teoria do sistema de ensino como violência
simbólica onde cabe a escola tornar-se instrumento capaz de legitimar a cultura
da classe dominante, escondendo seus abusos e fazendo com que o sistema se
perpetue;
ii.
Teoria da escola como aparelho ideológico de
Estado construído pela burguesia para garantir e também perpetuar seus
interesses, de forma a inculcar a ideologia, também de forma a legitimar a
exploração do capital;
iii.
Teoria da escola dualista forma força de
trabalho e inculca a ideologia burguesa, impedido o desenvolvimento do
proletariado e a luta revolucionária.
Estes modelos
impediam a escola de ser uma fonte de reflexão e criticidade aos sistemas que
aprisionavam os sujeitos num processo exploratório.
c.
Teorias críticas da educação condiciona fatores
diversos, como fatores políticos, sociais e culturais e a realidade
histórico-social, promovendo a emancipação do sujeito e como consequência a
construção de uma sociedade mais igualitária. São marcadas pelas seguintes
tendências que visam a transformação da sociedade capitalista:
i.
Libertadora que predominou na década de 1960 não
focava apenas a educação escolar, mas todo o processo e suas relações sociais.
Cabe ao processo fornecer o subsídio aos educandos e conscientizá-los sobre as
questões sociais, políticas e econômicas da sociedade, buscando sua
transformação. A partir de problematizações desenvolvem diálogos e aprendizados
através de todos os sujeitos, sem distinção;
ii.
Libertária forma sujeitos que resistem as
pressões e promovem a autogestão chegando a uma gestão de tempos diferentes. A
ação coletiva gera resistência a dominação. O estudante é um ser autônomo para
definir quais conhecimentos deseja aprender e participar;
iii.
Históricocrítica a partir de 1979 socializa o
conhecimento científico para formar sujeitos capazes de interpretar e
compreender, capaz de interferir junto as realidades para alcançar as
transformações da sociedade de forma justa e igualitária. O currículo relaciona
a prática social mediante experiências e conhecimentos dos estudantes com
diferentes métodos. O professor é responsável pelo processo, considerando o
conhecimento do estudante, assim como suas necessidades e interesses. Cada estudante pode aprender de forma
diferente e em tempos diferentes.
Já o Parecer de
número 7 e a Resolução de número 4, ambos de 2010 dá que a Educação Básica no
Brasil consiste em preparar os estudantes para contribuírem com a construção de
uma sociedade democrática e justa que proporciona a liberdade, a autonomia e a
responsabilidade. Cabe a escola promover a socialização, troca de saberes,
interação, acolhimento e o aconchego para o bem-estar dos estudantes,
valorizando as culturas e a inclusão das diversidades. Para atingir estes
objetivos as teorias tradicionais devem ser superadas, somente as teorias
críticas e as pós-críticas podem contribuir com este esforço.
Justificativas.
A primeira
justifica baseia-se na demanda social a partir da conscientização da sociedade
da necessidade de transformações que venham ao encontro das demandas sociais em
seus mais variados segmentos. A segunda justificativa baseia-se no entendimento
que o estudante deve ter suas inquietações ouvidas, entendidas e respondidas,
como forma de respeito ao sujeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe seu comentário, importante saber sua impressão sobre os textos, com issto podemos dialogar.