segunda-feira, 12 de março de 2018

Texto: Currículo: das teorias do currículo ao currículo na escola.


Estevão da Silva Barros 

As teorias de currículo ao longo do século XX e início do século XXI.

Texto: Currículo: das teorias do currículo ao currículo na escola; PAULA, D. H. L.; PAULA, R. M. Capítulo 1 Páginas 14 – 35.

O termo recebeu diferentes conceituações, entendimentos e funcionalidades ao longo da história, sendo transformado conforme as pressões sociais da época. Isto demonstra a transitoriedade que o termo abarca em um determinado período, tornando-se algo extremamente dinâmico e discutível.  Desta forma dizer o que é um verdadeiro currículo é incorreto, mas sim, entender se o mesmo pode ser útil, o quanto útil aquele momento a quem mais interessa.
I – Visão do contexto internacional
As primeiras pesquisas especializadas sobre o tema datam de 1920 nos Estados Unidos, num contexto de massificação do ensino em prol a industrialização. Neste caso, percebe-se que esta força provoca mudanças naquela, a fim de suprir as necessidades sociais.
As teorias desta época se dividem em:
1.       Tradicionais:
a.       Bobit (1918) propôs que a organização e a funcionalidade da escola fossem iguais aos de uma empresa, ideia que se destacou e dominou os Estados Unidos no século início e meados do século XX. Seu pensamento se consolidou com a publicação de seu modelo em 1949, chegando a influenciar outros países nos quarenta anos seguintes, onde o currículo deveria ser tratado como uma questão técnica, burocrática e administrativa a fim e assegurar a formação de indivíduos; 
b.       Já John Dewey propunha que as experiências vividas pelos alunos fossem consideradas na construção do currículo com princípios democráticos, participativos. Pensamento este não se destacou.
2.       Críticas:
a.       Em 1960 se dá pressão por mudanças percebidas nos debates, protestos e reivindicações, visando melhores condições e garantia de direitos do povo, questionando a teoria tradicional. No caso do Brasil, vivendo o período da ditadura militar encontra eco nas falas de Paulo Freire;
b.       As teorias críticas contrapõem a tradição, pois levam em relevância a transformação social. O currículo, portanto, não pode ser visto de forma técnica para atender as demandas de uma sociedade capitalista, uma imposição de poucos sobre muitos, para atender seus próprios interesses. Este modelo não interessava a população, reforçando a submissão da massa ao sistema de mercado;
c.       O texto nos apresenta três visões críticas:
                                                               i.      Teorizações críticas mais gerais: influência da sociologia e da filosofia, onde o currículo presente é percebido como instrumento capaz de reproduzir  valores,  hábitos, crenças e conhecimentos da classe dominante, como meio de reprodução e manutenção do discurso,  que dá manutenção ao sistema dominante, mas não apresentam uma proposta de mudança;
                                                             ii.      Teorizações centradas em questões curriculares: baseia-se do advento da nova sociologia da educação e movimento da reconceptualização;
                                                           iii.      Teorizações críticas gerais a educação: influenciam as discussões sobre o currículo que pode ser revisto e utilizado como meio de emancipação do indivíduo e libertação dos sujeitos sob dominação por meio de uma educação escolar que considerem, não só as classes dominantes, mas também as culturas dominadas, penso, levando-os a tornarem-se conscientes em seu papel na sociedade, num processo de libertação.
Estas contribuições transformam o currículo que considera o conhecimento e experiências diretamente ligadas a situação vivencial que objetiva a formação integral do ser, tornando-o autônomo, crítico e criativo na realidade de sua práxis. O currículo deve levar em consideração a realidade do sujeito.  Ainda neste contexto de reestruturação alguns denominam de currículo oculto que buscam mudar as práticas básicas em sala de aula e ver novas visões de temas.
3.       Pós-críticas:
a.       As teorias pós-criticas concordam com as teorias críticas, mas se diferem fundamenta-se nas formas textuais e discursivas e não no plano econômico político;
b.       Elevam as discussões para o âmbito de denominação baseado em raças e em questões de gênero;
c.       Pode-se considerar que esta visão complementa as teorias críticas ampliando o cosmo que contém diversos outros sujeitos com outro olhar.
II – Visão do contexto Brasil
Entre 1920 e 1930 se dão as discussões sistematizadas do currículo no Brasil em meio a urbanização e industrialização fomentado pelo movimento Escola Nova que, apesar de não oferecer uma proposta, enfatiza uma metodologia de ensino oferecendo diretrizes para organização curricular. Este movimento defendia a educação como instrumento para a construção de uma sociedade democrática, respeitando as diversidades e a realidade dos estudantes. O resultado deste pensamento é o desenvolvimento do currículo focado nas necessidades e os estágios de desenvolvimento das crianças.
Outro fator que contribuiu para a desenvolvimento do currículo no Brasil foi a criação do Inep – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Nacionais, em 1938. Em 1951 a disciplina Currículos e Programas foram incluídas no curso de Pedagogia, tornando-o objeto de ensino e pesquisa. Na década de 1960 as ideias das teorias tradicionais são adotadas no Brasil. A partir da década de 1980 inicia-se as influências das teorias críticas, de igual forma, as contribuições das teorias educacionais progressistas contribuíram o campo do currículo brasileiro cuja consolidação se deu na década de 1990.
A partir da década de 1990 outras teorias surgem como:
a.       Currículo construtivista baseado nas ideias de Jean Piaget que enfatiza o papel do sujeito no processo de aprendizagem, sendo que o cognitivo do ser da forma do processo de aprendizado;
b.       O currículo sóciocrítico ou históricocultural defende a necessidade da interação social entre os sujeitos e o papel meditativo do professor no processo na leitura contextualizada da sociedade e nas soluções dos problemas de forma crítica, participativa e autônoma;
c.       O currículo integrado ou globalizado fundamenta-se em duas ideias: integração dos conhecimentos às experiências com a intenção de compreender de forma reflexiva e crítica a realidade e desenvolver conteúdos culturais e conhecimentos científicos baseado em método de projetos;
d.       Currículo como produção social ou cultural, influenciado pela sociologia crítica, traz a ideia de que o currículo não se reduz a disciplinas e seus conteúdos, mas em terreno de luta e contestação cujo fim é uma nova construção cultural.
Apesar de perceber as influências estrangeiras no Brasil, percebe-se uma releitura a partir da realidade nacional, considerando nossas tradições. Deve-se entender que as teorias não se deram de forma linear, mas se somando, misturando, coexistindo e deixando de existir para uma dar lugar a outra.  Segundo alguns autores, as tendências pedagógicas se organizam em:
a.       Teorias não críticas na educação entendem a educação como autônoma e instrumento de equalização social, desconsiderando a história, o social, a economia e a cultura. De tendência Tradicional, Escola Nova e Tecnicista. Ao mesmo tempo que ignora a realidade, seu instrumento a estrutura e a mantém inalterada, mantendo os princípios da sociedade capitalista:
                                                         i.            Tendência Tradicional: se dá entre os períodos dos jesuítas até o ano 1930, repete os conhecimentos históricos, formação moral e intelectual conforme a exigência da sociedade, ignora a prática social, os interesses dos estudantes e é rigidamente obedecido pelos professores, este o centro do processo e detentor do poder absoluto do ensino;
                                                       ii.            Escola Nova foi implementada entre os anos de 1932 e 1960. Ajustar adaptar e formar estudantes aos valores e normas da sociedade. Não existe um currículo sistematizado, já que o mesmo era flutuante a ponto de atender os interesses e as necessidades imediatas dos estudantes. O professor é visto como facilitador de um processo de aprendizado e o estudante se torna o centro de forma ativa e participativa;
                                                     iii.            A Tecnicista surge em meados de 1950 e seu auge chega a 1970, com o papel de formar mão de obra eficiente e produtiva para responder os anseios do sistema de produção. O ensino foca o científico desvinculado da realidade social. Procedimentos e técnicas específicas garantem o resultado e o professor assume um papel técnico e o estudante seu papel de submissão.
b.       Teorias críticos-reprodutivistas defende a crítica em que a educação só pode ser construída considerando as questões sociais, históricas, econômicas e culturais. Já a denominação reprodutivista tem a ideia de reproduzir o modelo da sociedade vingente, como reprodutora do discurso. Há críticas ao regime autoritário e à pedagogia tecnicista. Estas teorias foram mais conhecidas por apresentarem reflexões que abordam:
                                                         i.            Teoria do sistema de ensino como violência simbólica onde cabe a escola tornar-se instrumento capaz de legitimar a cultura da classe dominante, escondendo seus abusos e fazendo com que o sistema se perpetue;
                                                       ii.            Teoria da escola como aparelho ideológico de Estado construído pela burguesia para garantir e também perpetuar seus interesses, de forma a inculcar a ideologia, também de forma a legitimar a exploração do capital;
                                                     iii.            Teoria da escola dualista forma força de trabalho e inculca a ideologia burguesa, impedido o desenvolvimento do proletariado e a luta revolucionária.
Estes modelos impediam a escola de ser uma fonte de reflexão e criticidade aos sistemas que aprisionavam os sujeitos num processo exploratório.
c.       Teorias críticas da educação condiciona fatores diversos, como fatores políticos, sociais e culturais e a realidade histórico-social, promovendo a emancipação do sujeito e como consequência a construção de uma sociedade mais igualitária. São marcadas pelas seguintes tendências que visam a transformação da sociedade capitalista:
                                                         i.            Libertadora que predominou na década de 1960 não focava apenas a educação escolar, mas todo o processo e suas relações sociais. Cabe ao processo fornecer o subsídio aos educandos e conscientizá-los sobre as questões sociais, políticas e econômicas da sociedade, buscando sua transformação. A partir de problematizações desenvolvem diálogos e aprendizados através de todos os sujeitos, sem distinção;
                                                       ii.            Libertária forma sujeitos que resistem as pressões e promovem a autogestão chegando a uma gestão de tempos diferentes. A ação coletiva gera resistência a dominação. O estudante é um ser autônomo para definir quais conhecimentos deseja aprender e participar;
                                                     iii.            Históricocrítica a partir de 1979 socializa o conhecimento científico para formar sujeitos capazes de interpretar e compreender, capaz de interferir junto as realidades para alcançar as transformações da sociedade de forma justa e igualitária. O currículo relaciona a prática social mediante experiências e conhecimentos dos estudantes com diferentes métodos. O professor é responsável pelo processo, considerando o conhecimento do estudante, assim como suas necessidades e interesses.  Cada estudante pode aprender de forma diferente e em tempos diferentes.
Já o Parecer de número 7 e a Resolução de número 4, ambos de 2010 dá que a Educação Básica no Brasil consiste em preparar os estudantes para contribuírem com a construção de uma sociedade democrática e justa que proporciona a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. Cabe a escola promover a socialização, troca de saberes, interação, acolhimento e o aconchego para o bem-estar dos estudantes, valorizando as culturas e a inclusão das diversidades. Para atingir estes objetivos as teorias tradicionais devem ser superadas, somente as teorias críticas e as pós-críticas podem contribuir com este esforço.

Justificativas.

A primeira justifica baseia-se na demanda social a partir da conscientização da sociedade da necessidade de transformações que venham ao encontro das demandas sociais em seus mais variados segmentos. A segunda justificativa baseia-se no entendimento que o estudante deve ter suas inquietações ouvidas, entendidas e respondidas, como forma de respeito ao sujeito.

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