A emoção (uma visão
psico-teológica)
Introdução
“O homem é razão e
emoção”
Amedeo Cencini
Nesta monografia tento abordar o tema da Emoção. Há um
valor científico do ser emocional? A emoção esta presente na teologia? Existe
um relacionamento? No primeiro capítulo teremos a visão de como a psicologia
trata o tema. No segundo faremos um relacionamento entre o que diz a psicologia
sobre determinadas emoções, ao mesmo tempo trataremos personagens inseridos no
mundo cristão.
II - o emocional do ponto de vista psicológico
I –
Definições:
As emoções são estados interiores que não
podem ser observados ou medidos diretamente. São respostas de experiências que
surgem de forma súbita. São incontroláveis. Levam as pessoas a se sentirem fora
do controle por um tempo. Não determinam o comportamento mas aumenta. A emoção
leva a uma reação: ação, nas palavras ou pensamentos perturbados, irracionais
ou desorganizados. Mudanças no fisiológico, subjetivo (sentimentos ou
pensamentos) e comportamento.
Definição de emoções (ou afeto):
são estados interiores caracterizados por pensamentos, sensações, reações
fisiológicas e comportamento expressivo específico. Aparecem subitamente e
parecem difíceis de controlar.[1]
Uma outra possível definição
encontrada no dicionário Oxford English Dictionary:
“qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento,
paixão; qualquer estado mental veemente ou excitado”.
Para Goleman:
“emoção se refere a um sentimento e seus pensamentos
distintos, estados psicológicos e biológicos, e a uma gama de tendências para
agir. Há centenas de emoções, juntamente com suas combinações, variações,
mutações e matizes. Na verdade, existem mais sutilezas de emoções do que as
palavras que temos para defini-las.” [2]
II - Emoções Universais:
As emoções são uma universalidade
encontrando as reações em qualquer lugar, onde esteja o homem. Expressada em
seu rosto, como um marca programada em seus gens. Ekman, diz haver as emoções
seguintes em todos os homens: alegria, raiva, desagrado, medo, surpresa,
interesse, vergonha desprezo e culpa.[3] As
básicas de onde todas as outras fluiriam seriam: Ira, Tristeza, Medo, Prazer,
Amor, Surpresa, Nojo e Vergonha. [4]
III - Primeiras Emoções:
As emoções vão surgindo aos
poucos na vida do homem: 3 meses encontra-se choro, alegria e medo; 3 a 4 meses
a raiva, a surpresa e a tristeza; 6 a 8 meses a vergonha e a timidez e aos 2
anos o desprezo e a culpa. Desde crianças são capazes de discernir as expressões.
IV - Natureza das emoções: [5]
São feitas de componentes
subjetivos, comportamentais e fisiológicos.
4.1. Componentes subjetivos:
sentimentos e pensamentos. Harold Schlosbergm
definiu em três dimensões uma escala: a) do agradável a desagradável.
A alegria é agradável; o medo, a raiva e o que desagrada não o são. b)
da atenção que atrai a rejeição do que desagrada ou
entristece e c) do intenso ao neutro a emoção pode ser branda ou
intensa a alegria ao contentamento.
4.2. Componentes comportamentais: a)
Expressões faciais: as expressões faciais são um meio de codificar expressões
pela reação provocada por suas emoções. Por pequenas alterações no rosto é
possível identificar o estado emocional do ser. A capacidade de experenciar a
dor do outro, por exemplo, fornece a base da empatia.
Gestões e ações: As emoções
refletem nos gestos e ações do indivíduo: numa criança a raiva a faz pular ou
atirar algum objeto; a tristeza por um olhar distante, um juntar de mãos.
Diversas respostas não são apenas geneticamente adquiridas, mas também
aprendidas ao longo da vida, por observação e imitação. Tanto adultos e
crianças aprendem a disfarçar seus sentimentos. Por exemplo sorrir quando se
está com raiva ou deprimido.
4.3. Componentes fisiológicos: as
alterações fisiológicas sofrem influência das emoções: tremer, corar,
empalidecer, suar, sentir tontura, são alguns exemplos. Surge a pergunta: a) as
reações fisiológicas a emoções são similares? Cannon diz que as que se refere à
dor e ao medo são as mesmas. Paul Ekman
percebeu num experimento que diversas alterações ocorrem quando se sente
medo, assim pode-se afirmar que existem vários padrões fisiológicos para
diferentes emoções. b) as reações fisiológicas às mesmas emoções são uniformes?
Não, cada indivíduo tem sua própria alteração, independendo do outro.
4.4. Componentes entrelaçados e interativos: pensamentos,
sentimentos, expressões faciais, atos e fisiologia estão exercendo influência
entre si. Segundo Ellis os pensamentos alteram os sentimentos. Por exemplo, você
está sozinho à noite e pode transformar em um estado aflito imaginando ouvir
passos ou sussurros de ladrões armados. a) emoções mistas: as pessoas sabem que
suas emoções são mistas, se contrapondo, amar e odiar a mesma pessoa. Folkman
& Lazarus, Schwartz afirmam que isto é uma regra. As emoções estão ligadas
a motivos (Buechler & Izard; Tomkins) e são um caminho de via dupla. Quando
uma pessoa está com fome ela sente raiva ou tristeza ou ansiedade, mas após
comer ela se sente feliz. Quando alguém está com raiva vem o desejo de ferir ou
destruir. b) emoções volúveis: as emoções estão em constantes mudanças,
principalmente a de afeto ou humores brandos passando de uma fase a outra
conforme o desenvolver da situação.
V - Como Surgem as emoções:
Dirigindo distraído e bate no
carro da frente, fica-se apavorado. Como surgiu a ansiedade?
5.1. Teoria resposta periférica: são
eventos que despertam respostas periféricas (sistema nervoso periférico,
responsável pelos reflexos e pelas reações fisiológicas). Você relaciona a
resposta a um determinado componente emotivo, como a ansiedade. Ao observar as
expressões faciais, que são variadas e específicas, as pessoas distinguem uma
emoção de outra e compreendem o que está sendo experimentado.
5.2. Teorias do Incitamento Inespecífico:
1) eventos incitantes despertam sentimentos, comportamento expressivo e reações
fisiológicas. 2) as reações fisiológicas não correspondem a emoções
específicas. 3) as emoções são aprendidas em elementos como intensidade, outras
experiências e sentimentos de aproximação e esquiva a uma situação. Elas presumem
que as pessoas avaliam, em algum nível o que lhes está acontecendo e que esta
avaliação gera uma emoção. A avaliação não é necessariamente racional,
deliberada ou consciente (Campos & Stemberg; Lazarus & Folkman;
Mandler). Para que experimente uma emoção, o indivíduo precisa atribuir o
incitamento físico à situação. A exata emoção sentida depende da maneira pela
qual a pessoa aprendeu a classificar a situação (Schacter e Singer), como
também acham que os indivíduos notam um
incitamento fisiológico e sentem-se motivados a procurar um rótulo emocional
que possa responder por esse estado.
5.3. Uma síntese: as evidências não
favorecem um único modelo de emoção (Barden; Buck, Lazarus, e outros). Aspectos
de cada teoria encontra suporte.
III - emoções específicas num contexto psico-teológico
Cencini relata que não existe
decisão tomada a frio ou apenas com a razão mas, há um feito de razão e emoção.
[6] Assim
podemos entender que a emoção está presente em todos os atos do homem, sendo
ele um cristão ou não. Para Cencini, a emoção não leva necessariamente a uma
ação, antes a uma série de julgamentos ou avaliações que determinam o
comportamento mediante determinadas situações tendendo a repetir estas ações em
outros momentos de sua vida.
A raiva é definida como emoção de
fortes sentimentos de contrariedade, acionadas por ofensas reais ou
imaginárias. Agressão é qualquer ato praticado com o fim de ferir ou prejudicar
uma vítima involuntária (Zillmann).[7] Existem
exemplos bíblicos de homens que tomaram esta posição: Saul em relação a Davi,
quando procurava matá-lo.[8] Pedro, o
apostolo, também manifestou esta emoção quando cortou a orelha do servo do sumo
sacerdote.[9]
Prazer, alegria e felicidade são
experiências emocionais positivas abrangem aquelas relativamente curtas, como
alegria e prazer, e aquelas mais plenas e duradoura, como felicidade e
serenidade.[10]
Presentes nas necessidades biologias e enlevamentos. Santo Agostinho dizia que
não se pode ser feliz sem possuir o que se deseja assim como também não o pode
aquele que tudo tem.[11] O
condicionamento da felicidade, como estado permanente é destinado àqueles que
possuem a Deus.[12]
Jó relata a perda da felicidade mediante as circunstâncias apesar da afirmação
de Agostinho.[13]
O prazer e a alegria esta presente na vida daqueles que ouvindo a palavra a
recebem.[14]
Zaqueu foi um exemplo deste momento.[15]
Ansiedade é uma emoção
caracterizada por sentimentos de antecipação de perigo, tensão e sofrimento e
por tendências de esquiva ou fuga; a pessoa pode se sentir ansiosa sem saber
exatamente por quê.[16] Na
epístola de I Pedro, percebesse esta emoção, o texto desafia o homem a lançar
sobre Jesus toda a ansiedade, para livrá-lo desta situação.[17]
O medo poderia ser definido da
mesma forma mas o que define corretamente é que o objeto do medo é facilmente
identificado.[18]
O estresse se refere a condições que despertam a ansiedade ou o medo (Fleming).[19] Um
exemplo claro destas emoções acumuladas e centradas num indivíduo é o profeta
Elias, a ansiedade, o medo, o estresse geram um caso de depressão.[20]
Certamente poderíamos relatar
outros casos cuja emoção floresce em indivíduos. Como a tristeza e o sofrimento
causado em Santo Agostinho pela perda de seu amigo.[21] As
emoções tão marcantes na vida de Moisés, a ira em matar um homem, o medo em
fugir, a depressão em buscar morte, assim como Elias e Jonas.[22] Jesus
no Monte das Oliveiras e seu estado de profundo temor e aflição.[23] Pedro
com seus atos inconseqüentes movidos pelas emoções.[24] Nossos
pais agiram cheios de emoção, nós agimos hoje e outros agirão amanhã.
A emoção faz parte da diversidade
de Deus. Não somos idênticos. Cada ser tem o seu modo de pensar e agir. Na
individualidade de cada um acha-se o complemento das necessidades do próximo,
seremos úteis e nos completaremos mutuamente cada um sendo o que é.
Conclusão
O estudo da emoção não se
encerra. A psicologia e a teologia têm neste tema várias perguntas ainda sem
respostas. Com várias vertentes é impossível definir algo tão íntimo. O que
motiva? O que gera? porque cada pessoa reage de uma forma? Isto não se responde facilmente. A emoção
está presente na teologia porque ela é formada por pessoas sujeitas a emoção. A
Bíblia, as produções, os tratados estão repletos de emoção. Cada autor coloca
seus sentimentos na palavra escrita a nós só cabe pesquisá-las, descobri-las e
vive-las.
O desafio em compreender a emoção
no campo teológico é muito importante. Como lidar com o ser, sem entende-lo? Se
a teologia é uma ciência que busca respostas, ela deve ir ao encontro delas,
busca-las, entende-las e proclamá-las; é um desafio para os teólogos. Se numa
extremidade está Deus na outra está o homem e um forte anseio interior que
precisa ser respondido e correspondido.
Bibliografia
AGOSTINHO,
Santo. Confissões. Local: São Paulo:
Ed. Paulinas, 1984.
AGOSTINHO,
Santo. Solilóquios e Vida Feliz.
Local: São Paulo: Ed Paulus, 1998.
BÍBLIA
SAGRADA.
CENCINI,
Amedeo & MANENTI, Alessandro. Psicologia
e Formação: Estruturas e Dinamismos. Trad. Frank Roy Cintra Ferreira &
Mariana Gastaldi. 2a ed. Local: São Paulo: Paulinas. pp.
54-70.
DAVIDOFF,
Linda F. Introdução à Psicologia.
Trad. Lenke Perez. 3a ed. Local: São Paulo: Ed. Makron Books, 2001. pp. 367-413.
DAVIDOFF,
Linda F. Introdução à Psicologia.
Trad. Auriphebo Berrance Simões e Maria da Graça Lustosa Local: São Paulo: Ed.
McGraw-Hill do Brasil, 1983. pp. 426-470.
GOLEMAN,
Daniel Inteligência Emocional. Trad.
Marcos Santarrita Local: Rio de Janeiro: Ed. Objetiva, 1995. pp. 303-304.
[1]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 369.
[2]
GOLEMAN Daniel Inteligência
Emocional, p. 303.
[3]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 369.
[4]
GOLEMAN Daniel Inteligência
Emocional, p. 304
[5]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 371.
[6]
CENCINI, Amedeo Psicologia e Formação,
p. 54.
[7]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 378.
[8] Cf. I Sm 19:10,11.
[9]
Cf. Lc 22:50.
[10]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 386.
[11]
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e Vida
Feliz., p. 129.
[12]
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios e Vida
Feliz., p. 131.
[13]
Cf. Jó 30:15.
[14]
Cf. Mc 4:16.
[15]
Cf. Lc 19:6.
[16]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 390.
[17]
Cf. I Pe 5:17.
[18]
DAVIDOFF Linda F. Introdução a Psicologia,
p. 390.
[19]
Idem.
[20] Cf. I Rs 19:9-14.
[21]
AGOSTINHO, Santo. Confissões, pp. 85-89.
[22] Cf. Nm 11:15; I Rs 19:4; Jn 4:8,9.
[23]
Cf. Mc 14:32-42.
[24]
Cf. Jo 21:7.
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