quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Caminhos e transformações da cristologia

SÍNTESE DAS LEITURAS – Estevão Barros

Caminhos e transformações da cristologia – Jürgen Moltmann – p. 65 - 108


O autor trabalha as variadas reflexões cristológicas construídas em diversos momentos da história humana.
Na visão bíblica a cristologia é entendida como a fé em Cristo, Jesus se torna conhecido como Filho de Deus, isto não pressupõe uma fé cega. Quando se confessa que Jesus é o Senhor entende-se que Deus o ressuscitou dos mortos. A cristologia não pode se restringir apenas à pessoa terrena de Jesus de Nazaré, a sua vida privada e personalidade. Ela, a cristologia deve conter a ressurreição de Jesus.
O lugar atual da cristologia deve ser vista da prática, a confissão de Cristo e o discipulado de forma inseparável, é impossível separar a teoria da prática, viva e presente em uma comunhão viva com Cristo. A expressão desta prática se encontra na comunidade e no evangelho, onde Cristo é a cabeça da comunidade, viva no discipulado de Jesus, conhecendo-O. A prática conduz a comunidade aos humildes.
A importância terapêutica da cristologia: a teologia protestante se baseia no critério da interpretação bíblica, isto impede de relacionar a uma cristologia voltada para “tratar” a miséria na vida das pessoas. Assim como a visão apologética vem trazer a razão, um motivo, a salvação ao ser humano. Uma salvação reduzida apenas na situação eterna, mas voltada para as misérias físicas, morais e sociais. Uma salvação voltada para todos e todas e não uma salvação individualista. A salvação não pode ficar aquém do efeito causador da miséria, numa visão reducionista em que a salvação se interioriza, ao contrário, ela deve atingir a causa que gera o pecado.
A visão comoslógica da cristologia traz ao ser humano a consciência de sua humanidade em confronto com o divino: eterno, infinito, imutável enquanto o ser humano é finito, temporal, mortal e sujeito. Deus, então se apresenta como resposta às inquietações humanas. Ele é atingido pela glória divina, o objeto da salvação, o ser humano divino surge e Deus se humaniza, tomando a forma perecível do ser humano. A salvação vem para o ser humano, mas não apenas para ele, para a natureza também. A visão descendente e ascendente do Filho de Deus. Um Deus em duas naturezas é a forma de levar a redenção à humanidade, na encarnação une o divino e o humano (claro, sem pecado) em uma só pessoa. Então, se compreende que se o Logos encarnou podemos considerá-lo como um ser humano. Se como o ser humano não pecou, logo Ele era imortal, pois o pecado gera a morte, então Cristo não morreu sua morte, mas a nossa. Pode-se concluir que em Cristo estava presente tanto o sofrimento quanto a Sua divindade, esta preferida em relação a aquela. A divisão de Jesus e o Cristo aparecem não por parte de Deus, mas do ser humano. Num jogo de interesses onde o poder e não Cristo é tema central. Na visão quiliasta demonstra um Cristo vitorioso e um milênio glorioso desprezando o caminho do ser humano Jesus até a cruz.
A cristologia antropológica ou moderna e anteriormente no iluminismo faz a virada de mesa. Nasce a subjetividade humana na tentativa de libertar o pensamento humano. A salvação, neste contexto, parte de um ser humano e de sua humanidade, a cruz não faz parte do processo da salvação humana. Quando o ser humano se identifica com Jesus em sua perfeição, encontra-se salvo. O ser humano pode encontrar no ser humano as respostas aos seus problemas, o segundo Adão é o nosso alvo, é o nosso igual. O ser humano salvo é um ser humano “impregnado” de Cristo. Quando o ser humano atinge a condição se comunicar com Deus ele se torna salvo tendo consciência disto ou não. A revelação da palavra em Cristo não é essencial para a salvação. A religião privatizada, de um único indivíduo se acomoda e não vislumbra as classes desfavorecidas.
Na ciência a subjetividade é destacada como algo fundamental. A teologia tem de ocupar-se das mudanças e propor respostas. São muitas. A pergunta é o que representa Cristo hoje? Para o terceiro mundo explorado, para a igreja ecumênica presente neste contexto de exploração humana, na intimidação nuclear, onde o homem está a um passo de uma destruição em massa, para a crise ecológica – natureza destruída? Em 1983 a igreja, na tentativa de trazer respostas a estas indagações volta-se para sua origem, mas o contexto é por demais diferente. A resposta estaria no Jesus histórico ou no Cristo divinizado? Não seria contraditório?
A cristologia hoje não pode mirar-se apenas no homem Jesus, como também não pode pregar apenas um Cristo divinizado. Jesus Cristo deve ser ampliado em suas relações com as comunidades. Com os pobres, doentes, com o povo, as mulheres, os homens, as crianças da mesma forma como Jesus Cristo se relacionou com Deus.  

A igreja não está preparada para entender um Jesus histórico em virtude dos paradigmas criados em torno do Cristo divinizado. Entendo que muitos abusos são cometidos ou por esta falta de visão ou simplesmente pelos radicalismos humanos na compreensão real de quem foi e é Jesus Cristo ontem e hoje. 

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